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About Filipa de Abreu

Ou. A história da casa de Vitorino das Donas começa a ganhar corpo em meados do século XVI, quando, em 1543 a proprietária do Casal do Barco, de seu nome Maria Álvares, mandatou, por procuração, seu marido Vasques Anes, para que em seu nome “pudesse vemder troqar escãbãr e haforar todo he qamto fose de sua fazenda”

Por outras palavras, autorizou o marido a vender, talvez entre outras, uma propriedade que possuía em Vitorino das Donas, localizada no lugar do Barco, ao capitão António Ramos, o qual, juntamente com sua mulher, de acordo com o documento que a seguir se reproduz, então viviam na cidade de Lisboa: ” elle basqeanes e(m) seu nome he da dita sua molher dise q. Vendia e de jejto lloguo vemdeo deste dja pª todo sempre ha ãt.º Ramos e ha dona Cateryna Capayupanga sua molher hora moradores na cydade de llysboa”

Respigado o texto acima expresso, duas observações podem, pelo menos, tirar-se.

A primeira é que, em meados do século XVI, havia no lugar do Barco uma propriedade já devidamente estruturada, sem qualquer vínculo senhorial e tão pouco relacionada com a instituição de uma “capela” na igreja matriz de Ponte de Lima, a qual havia sido dotada de uma série de bens por Martim Furtado e que uma série de documentos pertencentes ao arquivo desta casa mencionam.

O que se depreende da leitura do Tombo das Terras do dito Martim Afonso é que ao Casal do Barco estavam adstritas uma série de propriedades, constando, entre elas, aquelas que haviam sido de Vasques Ferreiro: “do Cazal do barquo q(ue) foram de vasquoanes ferreiro”

Esta ideia está claramente expressa num outro documento que pertenceu ao arquivo do Paço das Donas e que Pedro de Magalhães publicou no Arquivo de Ponte de Lima, em 1981. Atente-se, então, na argumentação que é dada para explicar-se a não relação entre as duas situações, ou seja, que os bens vinculados à dita “capela” não faziam parte da “quinta” que o referido capitão havia comprado: “ Hé de advertir q(ue) os bens q(ue) esta capela tinha em Vitorino das Donas nam tinham nada com a quintam do Paço q(ue) o capitam An.tº Ramos unio a quintam do Barco q(ue) comprou a Vasques Anes, ou milhor dizer nada tinham com a quintam de Barco q(ue se unio à do paço com uma parte e nem toda se unio porq(ue) o q(ue) era prazo das freyras q(ue) tudo estava junto”

A segunda observação está ligada à figura do capitão António Ramos, comprador do então Casal do Barco, já que a quintã do Paço era pertença de sua primeira mulher, Dona Ana de Lima. Ao que parece este capitão “ de Infantaria das Índias de Castela”, foi para a América do Sul na expedição de Francisco Pizarro, tendo chegado a governador de Cusco no Perú. Quando regressou a Lisboa vinhacasado, porque entretanto havia enviuvado da sua primeira esposa, com Dona Catarina, uma princesa Inca, ao que parece filha de Honayna Capae Yupangui. Deste seu segundo casamento António Ramos não teve filhos – “não tinha fº nem fª”, mas teve do primeiro uma filha que recebeu o nome de D. Francisca de Lima, entretanto casada com Álvaro de Abreu: “Dona Ana de Lima may de D. Franc.cª de Lima m.er de Álvaro de Abreu e fª de An.to Ramos de Abreu, o vº cap.tam e G.or do Cusco no Peru”15. Este casamento ocorreu em 1596, portanto já com o capitão António Ramos em Vitorino das Donas, sendo o noivo, de seu nome completo Álvaro de Abreu Soares, sargento-mor em Viana da Foz do Lima.

O facto da sua primeira mulher ser possuidora da quintã do Paço que por herança passaria para sua filha D. Francisca, levou o capitão António Ramos a comprar uma outra quintã adjacente com a finalidade de unir as duas, uma realidade veio a acontecer: “quintam do Barco q(ue) se unio á do Paço”

O textoda compra da referida propriedade é conhecido pois foi registado num tabelião de Viana do Castelo, perante testemunhas e os vendedores Vasques Anes e sua mulher Maria Álvares: “hem lhe venderem ha sua quintam de barquuo da freyguesia do mosteyro das Donas de betorinnho”

O capitão António Ramos, porque entretanto aí passou a residir, terá feito, certamente, uma série de investimentos e melhorias nas duas propriedades, das quais pouco ou nada se sabe, porque o actual edifício é uma obra bem posterior.

Desse período poderá ser, com um certo grau de certeza, uma parte da casa, voltada a sul onde se conserva uma porta com as arestas chanfradas à boa moda da arquitectura manuelina que então se fazia.

Deste seu segundo casamento António Ramos não teve filhos – “não tinha fº nem fª”. mas teve do primeiro uma filha que recebeu o nome de D. Francisca de Lima, entretanto casada com Álvaro de Abreu: “Dona Ana de Lima may de D. Franc.cª de Lima m.er de Álvaro de Abreu e fª de An.to Ramos de Abreu, o vº De acordo com o testamento de D. Catarina, a princesa inca que foi segunda mulher de António Ramos, este foi assassinado em Viana do Castelo – “e sosedemdo matarem no na vila de Viana ao dito amt.º Ramos meu marido”, passando então os bens para a sua única filha.

Esta, juntamente com seu marido, viria ainda a ser a beneficiária dos bens de sua madrasta, apesar das desavenças que teve com a sua enteada e que esta bem expressa no seu testamento. Por ele, que foi ditado ao padre Domingos Gonçalves, seu capelão, ficamos a saber que havia casado “na sidade do Cusco” e que à altura do enlace não era detentora de qualquer tipo de património: ”e ao tempo q(ue) com ele casej eu naão tinha de meu cousa alguma”. Mais expressava que sempre viveu com o marido até ao momento da sua morte e que sempre mantivera boas relações com o marido da enteada, dizendo mesmo que sempre o tivera em consideração e respeito e que ele fora para si como um filho, a quem sempre tivera amor. Desentendimentos, que os houve, esses vieram por parte da enteada, mas tal não obstava que os instituísse como seus herdeiros universais.

Em tal testamento, feito aos 80 anos – viria a falecer 8 meses após a morte do marido – determinava uma série de disposições, entre as quais que os seus escravos fossem tratados com carinho, que o seu corpo fosse amortalhado no hábito de São Francisco – “no abyto do sõr sam fr.co”- e que fosse enterrada no interior da ermida onde marido estava depositado e que ele havia mandado construir dentro quinta sob a invocação de Nossa Senhora: “desta qimta de nossa sora q(ue) o dito amt.º Ramos meu marido aqui edifycou”.

Herdeiros e senhores do Casal do Barco e da Quinta do Paço, D. Francisca de Lima e seu marido Álvaro de Abreu trataram de engrandecer a propriedade com mais bens que foram adquirindo consoante o relata um documento do arquivo da casa, publicado em 1981: “An.to Ramos o Capitam comprou algu(m)as propriedades q(ue) posuio, e também sua fº D. Fran.ca de Lima m.er de Álvaro de Abreu S.res do Paço de Victorinnho das Donas”.

As alianças matrimoniais fizeram convergir para os descendentes do Capitão António Ramos algumas das famílias mais gradas da região limiana, Abreus, Limas, Pereiras e Coutinhos - e mesmo estrangeiras como a belga Logier.

Esta entrou na órbita dos senhores do Paço de Vitorino das Donas em 1638 com o casamento do cavaleiro flamengo Guilherme de Campanaer Logier, natural de Anvers, com D. Francisca de Lima e Abreu, à data senhora do dito paço.

Guilherme Logier era, ao que parece, filho segundo de uma família flamenga que havia enriquecido com o trato do comércio internacional. Sendo, na altura, o porto de Viana do Castelo, um dos mais importantes do reino, foi com toda a naturalidade que este flamengo se estabeleceu em Viana e tomou contacto com a descendente de António Ramos.

Sobre a história desta casa pouco se sabe neste período. O edifício era o mesmo que havia sido construído ou modificado pelo Capitão António Ramos e o casal repartiria a sua vida entre Vitorino das Donas e Viana, porque era ali que se situava a base comercial do flamengo e também porque foi, precisamente, naquela vila do foz do Lima, que eles fundaram a capela do Santo Cristo, em 1647, na igreja dos Frades Carmelitas. Um outro acto, de capital importância para o futuro do antigo Casal do Barco e que é obra do mesmo casal, foi a instituição do Morgado da Quinta do Barco, no dia 3 de Fevereiro de 165323.

Dizemos que foi de importância acrescida, porque a instituição do morgadio tornava a dita propriedade indivisível, que passava a ser legada ao filho mais velho, defendendo-a assim de possíveis tentativas que visassem retalhá-la ou mesmo aliená-la. Por outras palavras, o filho mais velho, que na gíria popular, passou a designar-se de morgado, não era de modo algum o proprietário absoluto daqueles bens, antes era um fiel depositário e um administrador que beneficiava dos proventos que conseguisse obter através da sua gestão.

Os proprietários do agora morgadio do Paço de Vitorino das Donas viveram na casa construída ou reformulada na 2ª metade do séc. XVI até meados do século XVIII, altura em que começou a construir-se o actual solar.

Foi na vigência do morgado João de Abreu de Lima Logier que começaram as obras que viriam a substituir a antiga casa da Quinta do Barco. Os trabalhoscontinuaram após a sua morte, porque só se deram por concluídas em 1780, quando presidia aos destinos do morgadio o seu descendente Gonçalo de Abreu Coutinho.

A construção do actual edifício reflecte, não só, o estilo arquitectónico que então vigorava na tipologia dos solares do Minho, mas também a disponibilidade financeira que a família à época tinha, partindo do princípio que a base da sua riqueza residia num extenso património fundiário. Não é também alheio o facto do país beneficiar do efeito “ouro do Brasil” que em muito contribuiu para a renovação do parque habitacional da nobreza e dos lavradores mais grados da região e para a profunda alteração que se fez sentir na grande maioria das igrejas. Estas viram,não só a sua estrutura arquitectónica alterada para os modelos de cariz barroco, como os interiores foram profundamente remodelados com a introdução das talhas douradas e de uma imaginária cujo movimento contribui para efeitos cénicos catalizadores de uma religiosidade que havia encetado o seu caminho com a devotio moderna.

Pouco sabemos do dia a dia deste solar nos decénios que se seguiram. Conhecem-se os descendentes que se sucederam na linhagem, as alianças matrimoniais que se fizeram e mesmo a envolvência política que conduziu ao célebre incêndio de 1836.

Em 1836 o morgado do Paço de Vitorino das Donas era Francisco de Abreu Pereira Coutinho, um claro aderente ao miguelismo e que devido as suas convicções políticas era a figura de proa do movimento miguelista em Pote de Lima.

Com tal militância haveria de conquistar um conjunto, mais que de opositores, de inimigos políticos, naturalmente da ala liberal, mais uma série de dissabores que haveriam de redundar num ataque ao seu paço de Vitorino das Donas, que foi criteriosamente incendiado. Relembremos a descrição que é feita num dos documentos que pertenceram ao arquivo daquela casa: “a dita malta, entrando a casa do Paço de Victorino das Donas, lhe lançaram fogo, deixando-a toda reduzida a cinzas e sem escapara nada, até ao m.mo celeiro foram por fogo.

Ao meio dia do dia 23 de Julho de 1836 já ardia toda a casa”. Tanto quanto o deixa antever o texto da devassa que posteriormente correu em tribunal, os autores do ataque incendiário já antes haviam destruído a casa a José Pedro e no paço usaram de produtos inflamáveis para que o fogo se propagasse com a velocidade necessária.

Destruída a casa e confrontado com a situação politica que lhe era adversa, o morgado partiu para Londres onde viveu alguns anos refugiado e, ao que parece, numa situação económica, nada dignificante para o seu estatuto social.

Viria a suceder-lhe no governo da casa, seu filho Francisco de Abreu de Lima Pereira Coutinho, nascido em 1850 e que, por se ter envolvido num dos governos de D. Carlos, foi agraciado com o título de Conde (1º) do Paço de Vitorino.

Com a sua morte, a casa passou para seu filho Francisco de Abreu Lima Calheiros de Noronha Pereira Coutinho que faleceu em 2010.

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