Conselheiro Tito Augusto Pereira de Matos

“O dr. Tito Augusto Pereira de Mattos, filho de José Augusto Pereira de Mattos e de D. Maria Francisca Pereira de Mattos, nasceu na Província da Bahia em 17 de agosto de 1835.

Seguiu o curso jurídico, e, matriculando-se em 1853 na Faculdade de Direito de Pernambuco onde esteve três anos, teve de ir ultimar os seus estudos na de S. Paulo, em consequência do Cholera morbus que em 1856 e 1857 assolava aquela Província.

Tomou o grau de bacharel em direito em novembro de 1857, e o de Dr. De borla e capelo em 1858.

Casou-se em S. Paulo com uma das filhas do honrado Conselheiro Joaquim Floriano de Toledo, chefe de uma das famílias mais importantes da mesma Província.

Ali exerceu o cargo de promotor público sendo depois nomeado juiz municipal e de órfãos do município de Campinas, onde prestou serviços relevantes não só à causa da justiça, como à da colonização, serviços apontados pelo ilustre diplomata Barão de Tschudi, e reconhecidos pelos Conselheiro Sinimbu no aviso anexo ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, apresentado às Câmaras pelo mesmo Conselheiro na época em que esse Ministério se achava a seu cargo.

Nomeado juiz de direito de uma das comarcas de Goias, para onde teve de seguir e residir durante algum tempo, regressou a S. Paulo, onde exerceu o honroso e difícil cargo de chefe de polícia, de sorte a chamar a si a simpatia até dos próprios adversários.

Removido para a comarca de Guaratinguetá, criou aí a Associação de Voluntários da Pátria, de que foi presidente, concorrendo para a leva de mais de duzentos voluntários, aos quais tão bons serviços deveu a pátria na campanha do Paraguai.

Passando daquela comarca para a de Taubaté, tais foram ali a sua conduta e serviços, que o governo imperial distinguiu-o com a venera de Cristo.

De 1866 a 1869 foi deputado provincial em S. Paulo, e impressos correm vários discursos seus, proferidos naquelas sessões, em que se tornou notável especialmente pela posição que assumiu perante a situação decaída em 1868.

Apresentou vários projetos sobre instrução pública, criação de cadeiras, redução de impostos; foi um dos iniciadores da estrada de ferro do Norte de S. Paulo, e o primeiro a apresentar a indicação para o prolongamento da via férrea de Campinas a Mogi Mirim – projeto que, parecendo impossível a princípio, é hoje uma vantajosíssima realidade da Província.

De volta, novamente, a sua comarca de Taubaté, e a braços com a situação inaugurada em 1868, ali defendeu o direito de quantos o tinham por si amigos ou adversários, distinguindo-se sobretudo na época da eleição, durante a qual, graças as suas idéias conciliadoras e retas, não presenciou a comarca uma só cena de sangue, tornando-se realidade a garantia do habeas corpus.

Removido para comarca de 3ª entrância na Província do Rio Grande do Sul, seguiu sempre a vereda da justiça e da probidade, merecendo as felicitações de amigos e adversários, na ocasião de sua retirada, pelo modo imparcial porque administrara a justiça.

Sobre essas manifestações, as quais juntaram algumas linhas em extremo lisonjeiras, falam mais alto do que nós os jornais da localidade.

Em Pelotas, além de outros prestou notáveis serviços em relação ao crime da moeda falsa, dando providencias acertadas para a descoberta e captura de vários criminosos.

Em 17 de janeiro do corrente ano foi nomeado chefe de polícia da corte, e a sua atividade e energia se deve a prisão dos capoeiras que infestavam a cidade, as medidas que contém a prostituição dentro dos limites legais, e o desaparecimento de muitas casas de jogo, verdadeiros covis de perdição e ruína.

O que, porém, mais atesta o modo hábil porque o Dr. Tito compreende a sua espinhosa e difícil missão é o sossego que reinou nas passadas eleições e durante o carnaval deste ano.

Juntando a tolerância ao conselho amigável, preferindo a convicção à força, conseguiu ele que, em quaisquer dessas ocasiões,tão propensas ao sangue e à desordem, não tivesse a capital do Império casos lamentáveis a registrar, nem a justiça crimes a punir.

É talvez o seu maior elogio porque é sempre arriscadíssima a posição de um chefe de polícia no momento em que, por uma evolução imprevista, o país muda de política, tornando-se necessário muito acerto e energia para evitar as excitações do momento.

Registrando por último o modo porque o atual chefe de polícia tem procedido em relação ao grande número de crianças, que por aí vagavam entregues a pratica de atos reprovados e imorais, e a quem deu trabalho honesto mediante salário ajustado, o que é por certo um dos atos mais felizes e humanitários da sua administração, damos por terminado este esboço biográfico, no qual, pondo de parte toda e qualquer ideia política, procuramos apenas ser imparciais”.

ESBOÇO BIOGRAPHICO. In: A Lanterna: Folha Satyrica e Illustrada (RJ), Rio de Janeiro, p. 35 e 38, ed. 4, 1878.

Agraciado com a comenda da Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição da Vila Viçosa em 21 de agosto de 1879.