Pedro Leme da Silva, o Torto

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About Pedro Leme da Silva, o Torto

Genealogia Paulistana

Luiz Gonzaga da Silva Leme (1852-1919)

Vol II - Pág. 230 a 279

Tit. Lemes

(Parte 2)

2-1 Capitão Pedro Leme da Silva (o torto) foi morador em Itu onde faleceu em 1717. Torto e coxo, foi, entretanto, um soldado destemido nas inúmeras bandeiras que em seu tempo fizeram entrada até os sertões longínquos de Mato Grosso, a conquistarem índios bravios. A seu respeito escreveu Pedro Taques o que segue: Pág. 241

"Este paulista soube desempenhar os nobres espíritos do sangue que lhe adornava as veias como mostra a ação de valor e fidelidade que praticou na campanha e sertão da Vacaria, no sucesso seguinte.

Costumavam os antigos paulistas, ainda antes de ser fundada a cidade do Paraguai, penetrar os sertões incultos com interesse de reduzir ou conquistar os índios de diversas nações; para que, aproveitando-se estes da felicidade do sagrado batismo, ficassem depois servindo com o caráter de administrados aos seus conquistadores, a cujos descendentes passava esta administração, que se praticou sempre em todo o Estado do Brasil até proibir-se pelos anos próximos de 1752.

Uns se entranhavam aos sertões dos Goiases até o rio das Amazonas no Estado do Pará; outros aos da costa do mar desde o rio dos Patos até o rio da Prata, entranhando-se pelo centro até o rio Uruguai e Tibagi; e subindo pelo Paraguai, até o Paraná onde deságua o rio Tietê ou Anhembi. Atravessaram muitas vezes o sertão vastíssimo alem do rio do Paraguai, e, cortando a sua cordilheira, se achavam no reino do Peru.

Debaixo do comando de Pedro Domingues ou Braz Mendes(1), capitão-mor do seu troço, natural de Sorocaba, saiu Pedro Leme da Silva que era destemido e grande soldado de arcabuz e capaz para qualquer facção de temeridade, quanto mais de valor. Postou o corpo da tropa nas campanhas da Vacaria, cujo sítio fica acima da cidade de Assunção do Paraguai muitas léguas. Formaram um arraial, sendo as tendas da campanha casas construídas de madeira, cobertas de palha, a que no Brasil chamam ranchos. Aproveitava-se a gente deste corpo da abundância dos gados que inutilmente multiplicam nestas campanhas sem haver algum senhor possuidor de tanta grandeza, que não só é dos gados vacuns, mas também dos animais cavalares. Este sertão discorre acima do sítio nosso de Camapuã, onde há varadouro que navegam a demandar as minas da vila real de Cuiabá e vila Bela do Mato Grosso; porque do dito Camapuã seguem diversas vertentes para o Cuiabá, e este sertão é habitado por gentio Guaycuru, vulgarmente chamado cavaleiro, por andarem sempre a cavalo, e é gente por natureza belicosa e briosa com grande ardor e valor para a guerra.

___________________

(1) Vide estes nomes em Tit. Domingues Cap. 1 °. Eram o sargento-mor Pedro Domingues Paes e o capitão-mor Braz Domingues Paes, naturais de S. Paulo, e moradores em Sorocaba.

Pág. 242

Neste sertão, pois, se achava a tropa, como em arraial, esperando monção para seguir o destino a que a conduzira o interesse de conquistar gentios, quando apareceu um mestre de campo castelhano, da província do Paraguai, com seu troço de cavalaria até trezentos soldados. Com cortês urbanidade e oculta política cumprimentou aos paulistas, presenteando ao capitão-mor da tropa com a excelente erva chamada Congonha; por ser a da vila de Cururuatim a mais mimosa, que no gosto e seus efeitos excede a das outras partes daqueles continentes.

Deteve-se ali o tal mestre de campo com o seu terço de cavalaria alguns dias, tendo feito o seu abarracamento em distância de peça de artilharia do nosso arraial. Entre soldados castelhanos e paulistas se tratara uma sociedade urbana e civil; porque de parte dos portugueses se não tinha penetrado o oculto fundo do dito mestre de campo (é lastima que a inércia dos paulistas deixasse sepultar com o tempo o nome deste cabo, o dia do mês e ano do sucesso acontecido, e que só se conservasse na memória seguida de pais a filhos a verdade do fato daquele lance. em que teve todo o louvor Pedro Leme, o torto, cujo nome, procedimento, e a inveja de sua heróica resolução existe até agora), até que ele em uma manhã veio ao nosso campo com um suficiente corpo de soldados de pé, que lhe serviam de guarda e procurando ao capitão-mor da tropa paulistana, travaram prática sobre a vastidão daqueles sertões e seus habitadores gentios bravos, contra cujas forças triunfavam sempre os portugueses da vila de S. Paulo em suas entradas e reduções. Sutilmente foi o tal castelhano dispondo o material discurso do capitão-mor de alguns de seus oficiais e soldados que se achavam na prática, entre os quais assistia Pedro Leme, sem mais caráter que o de soldado raso daquele corpo.

Persuadido o dito mestre de campo que aquele sertão da Vacaria era todo de conquista de el-rei seu amo, como primeiro senhor da província do Paraguai, por cuja razão não deviam os paulistas duvidar desta preferência, e que, para a todo o tempo assim constar, era muito justo (isto se achar naquela ocasião um e outro corpo pastando em dito sertão) que assinasse o capitão-mor por si com seus oficiais e soldados um termo deste reconhecimento.

Pág. 243

Para este efeito trazia já o mestre de campo lavrado um termo em folha de papel, que logo o apresentou para o determinado fim de ser assinado. Sem a menor repugnância pegou na pena o simples e material capitão-mor e, assinando-se, foram fazendo o mesmo outras pessoas que chegaram ao número de cinco, quando repentinamente enfurecido Pedro Leme pelo acordo que lhe ministrara o discurso, o valor e a fidelidade, pegou na sua arma de fogo, e levantando-lhe as molas, rompeu brioso nestas palavras, que se conservam constantes na tradição dos moradores da vila de Itu, sua pátria:

'Vossa senhoria, pelo poder com que se acha neste lugar, será senhor de minha vida, mas não da minha lealdade. Estas campanhas são e sempre foram de el-rei de Portugal meu senhor, e por nós e nossos avós penetradas, seguidas e trilhadas quase todos os anos a conquistar bárbaros gentios seus habitadores. O Sr. capitão-mor e mais senhores, que têm assinado sem advertência o contrário desta verdade, ou estão abandonados como lesos ou como temerosos; eu não, nem os mais que aqui nos achamos em toda esta tropa, porque não havemos de assinar este papel, etc.'

A estas vozes e a este exemplo já todo o corpo paulistano tinha pegado em armas, com cujo brioso movimento foi tão prudente o mestre de campo castelhano, que sem articular vozes, nem obrar ação alguma, se tirou fora da barraca, ficando seu intento sem efeito e adiantando os primeiros passos articulou este seguinte desafogo: 'mirem el tuerto' - E Pedro Leme, ouvindo-lhe o vitupério, lhe deu em alta voz esta resposta: 'e coxo também'

Recolheu-se o castelhano ao seu quartel, e na manhã seguinte levantou o campo e dele se ausentou sem ação alguma de despedida, depois de tantas urbanidades praticadas. Ficaram os paulistas envergonhados da facilidade com que o seu capitão-mor e quatro oficiais tinham assinado aquele termo, sem recordarem que haviam obrado uma ação indecorosa à nação e a seu rei e natural senhor, e que só Pedro Leme fora capaz deste acordo e briosa resolução, que evitou o maligno intento do castelhano.

Pág. 244

Continuou o troço o seu destino quando foi tempo de monção e se recolheu a salvamento.

Aplaudiu-se muito em S. Paulo a ação de Pedro Leme, tanto quanto se estranhou a materialidade do capitão-mor e seus quatro companheiros, e como estas vozes chegaram a Portugal a informar do lance acontecido ao Sr. rei D. Pedro, nós não descobrimos; sabemos só com toda a pureza da verdade que chegando em 1698 a S. Paulo Arthur de Sá e Menezes, governador e capitão general do Rio de Janeiro e capitanias do Sul, confessou ao capitão BarthoIomeu Paes de Abreu, e ao reverendo doutor João Leite da Silva e a outras pessoas que tinham vindo a cumprimentá-lo e dar-lhe as boas vindas, que S. Majestade lhe ordenava que de sua parte agradecesse a Pedro Leme a ação de honrado vassalo, que praticara na campanha da Vacaria com o mestre de campo castelhano Don Fulano de tal, em tal ano etc.

Penetrou Pedro Leme os sertões que hoje são minas de Cuiabá, vencendo a navegação de rios caudalosos, com o precipício de altas cachoeiras, em cujas viagens deixou o seu valor por herança aos dois filhos, os perseguidos e infelizes João e Lourenço Leme, dos quais fazemos menção adiante."

Casou-se Pedro Leme da Silva com Domingas Gonçalves e dela deixou os 4 f.ºs seguintes:

3-1 João Leme da Silva 3- 2 Lourenço Leme da Silva

3-3 Antão Leme da Silva

3-4 Helena do Prado.

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