Trajano de Barros Camargo

Trajano nasceu em Limeira, em 15 de março de 1890, filho do coronel Flamínio Ferreira de Camargo e de Cândida Virgínia de Barros Camargo. Fez seus estudos em São Paulo, como interno do Mackenzie College, até se formar engenheiro em 1909. Foi então fazer um curso de especialização nos Estados Unidos, na Universidade de Wisconsin, que não terminou por ter que voltar para o Brasil em 1911, após a morte de seu pai. Comprou uma serraria na localidade de Faxina. A seguir, vai para Piracicaba onde leciona matemática na Escola Luiz de Queiroz.

Casou-se em 10 de fevereiro de 1914 com a professora Maria Tereza Silveira, filha do Dr. Silveira Melo. Nesse mesmo ano, junto com seu cunhado Antônio Augusto de Barros Penteado e o dentista Abelardo de Souza (inventor de uma complicada máquina de classificar café) é fundada a firma Souza, Penteado & Cia., em Piracicaba, que não chegou a fabricar a tal máquina, por divergências entre Abelardo e Trajano, que a queria simplificar.

Em 1915 é fundada em Limeira a Machina S. Paulo (B. Penteado & Co.) sendo sócios Trajano e o cunhado Antônio Augusto (casado com sua irmã Celisa). Inicialmente compraram a oficina de troles e carroças de Emílio Spadari, que tinha um grande barracão no início da atual Rua Dr. Trajano ( onde hoje é a GF – Auto Peças). Foram dando continuidade à oficina de carroças e montaram uma serraria perto da linha do trem, começando a desenvolver e a fabricar, paralelamente, os classificadores de café.

Um simples acaso, aliado ao espírito prático de Trajano, fez com que fosse inventado um novo processo de descascar café. Trajano brincava com uma atiradeira usando grãos de café em lugar de pedrinhas. Alguns dos grãos rebateram numa parede e Trajano constatou, com surpresa, que a casca se separava por completo pelo choque recebido. Assim Trajano idealizou um simplíssimo descascador de café, que patenteou em 1920, passando a indústria a produzir conjuntos completos de 400 arrobas que, exibidos na Exposição Internacional do Centenário em 1922, receberam Medalha de Ouro.

Após a Exposição, a Machina S.Paulo teve que ampliar-se rapidamente, sem mãos a medir para atender os pedidos. Novos galpões foram construídos entre 1922 e 1925. As chapas de zinco para os telhados tiveram que ser importadas. Esses barracões são os que ainda existem para o lado da estação ferroviária. Também havia o problema da mão-de-obra que obrigou Trajano a trazer gente de fora, entre eles Henrique Schmidt, de Piracicaba, que foi muitos anos o encarregado da carpintaria, Ambrosio Fumagalli, de Descalvado e outros.

Construiu-se a Vila S. Paulo (umas 30 casas), de propriedade de Trajano, alugadas aos empregados. Na Vila Santana, comprou outras casas para o mesmo fim. Já em 1923 tinha promovido a vinda do Colégio Sto. Antônio, de Descalvado para Limeira. O dono do colégio, professor Antônio de Queiroz, tinha sido seu colega de estudos no Mackenzie. Trajano mandou construir um novo prédio para essa escola na Rua Dep. Octavio Lopes, que foi inaugurado em 1928.

Na Machina S.Paulo havia uma escola de aprendizagem de carpintaria e de montagem de máquinas. Também mantinha tipografia própria. Para dinamizar a produção, montavam-se as máquinas "em série", sobre trilhos depois desmontados em partes e embaladas. Cerca de 80 agências estavam distribuídas pelo Estado e 30 mecânicos viajantes inspecionavam as máquinas já instaladas.

Na época áurea da Machina S.Paulo eram estes os principais chefes e encarregados: Cyro Scartezini (sub-gerência e chefe de escritório); Amálio Zaccaria (parte de experiências); Francisco D’Andréa, (produção); José Bento da Glória (chaparia); Ambrósio Fumagalli, Antônio Pedrozo e Antônio Pelegrini (mecânica); Henrique Schmidt (carpintaria); e João Meng (serraria).

Eram cinco os irmãos Zaccaria que trabalhavam na Machina S. Paulo. Amálio Zaccaria, numa oficina na sua residência, idealizou e produziu uma máquina de beneficiar arroz. Ofereceu sociedade a Trajano que não quis aceitar, mas incentivou-o a prosseguir. Os Zaccaria saíram da firma e montaram em 1925 a Machina Victória. Trajano fez o que pôde para ajudar e mandou uma circular a todas as agências da Machina S.Paulo apresentando a nova máquina de arroz, que passou a ser por elas vendida.

Em 1925 desfez-se a sociedade com Antônio Augusto de Barros Penteado, ficando Trajano sozinho na empresa.