About Lodewijk Govaert, alias Luís Goulart
Texto sobre Luis Gularte encontrado em As Saudades da Terra, de Gaspar Frutuoso, escrito entre 1586 e 1590:
E este Guilherme da Silveira foi o primeiro homem que fez pastel nestas ilhas e o semeou, porque trouxe, quando veio, a semente de Frandes, donde se fazia, e ainda agora se faz; e, antre outros homens que sabiam o negócio do pastel, que com ele vieram, foram um que havia nome Pero Pasteleiro, e seu irmão, e outro homem casado, framengo, chamado Govarte Luís, ao qual Govarte Luís Guilherme da Silveira teve em sua casa certos anos, com sua mulher e filhos, porque lhe semeavam e beneficiavam o pastel.
Este Govarte Luís teve na ilha do Faial muitos filhos e filhas, e daí a anos, como se veio a semear pastel por estoutras ilhas, e nesta de São Miguel, e por ser coisa rica e de muito proveito, lançou el-rei de Portugal mão disso pera que se viesse a fazer quantidade dele, pera o que se consertou daí a alguns anos com os moradores desta ilha de São Miguel, onde se fazia mais, e das outras ilhas dos Açores, que lhe daria a semente necessária pera semearem e casas de engenhos, moentes e correntes pera o moerem e o beneficiarem, com condição que lhe haviam de pagar os lavradores, que o fizessem, dízimo e vintena, sc., de cada dez um, e, depois, de cada vinte um em bolos, que vem a ser a catorze e meio por cento. Os moradores foram contentes e pagaram sempre estes direitos, como até hoje pagam, mas el-rei não cumpriu o que com eles assentou, senão nos primeiros princípios e anos, de que os lavradores foram causa por se resfriarem de o moer nos engenhos de el-rei; porque, com a muita azafima (sic) que havia e poucos engenhos de el-rei e mau aviamento, se lhe perdia o pastel, pelo que queria antes cada um fazer engenho próprio, em que moesse o seu, o qual foro de moer se ficou até agora; e, quanto à semente, tão pouco a dá el-rei, de modo que tudo ficou às costas dos lavradores e el-rei recebe todos os seus direitos por enchêo. Como pouco tempo há que um Bastião Coelho, morador que foi nestas ilhas, informando a el-rei, fez que se não tomassem, como dantes, dos lavradores e mercadores direitos em pastel, senão que lhos hão-de pagar os que o carregam a dinheiro, e indo Bartolomeu Nogueira por provedor da ilha de São Miguel, trouxe provisões de el-rei que se pagasse somente o dízimo da saída do pastel a dinheiro.
Por ser Govarte Luís tão entendido nos negócios do pastel, como tenho dito, vivendo ele na ilha do Faial, o mandou el-rei vir a esta de São Miguel com cargo de visitar todos pastéis que nela se faziam, e por sobrerrolda dos lealdadores, com o qual cargo e ofício de lealdador-mor viveu depois nesta ilha muitos anos, até que aqui faleceu.
Antre os filhos que teve Govarte Luís, foi um, chamado Bastião Luís, o qual, sendo moço, se foi pera Lisboa, onde serviu a um homem honrado que el-rei mandou por seu feitor a Frandes, e depois de estar lá alguns anos, acabando o tempo de sua feitoria, veio a Lisboa dar sua conta, como é costume, em que o alcançou el-rei em dívida de muita soma de dinheiro, de modo que não tinha com que lhe pagar tanta quantidade e andava mui agastado, dizendo que ele não gastara a fazenda de el-rei, nem lha tomara, e que sempre fizera seu ofício inteiramente, com muita verdade, e não sabia aquele erro onde estava. Andando assi agastado, sem ter remédio, nem se saber determinar, ia à casa dos contos, onde dava sua conta, e com ele Bastião Luís, seu criado, que, como era moço esperto e de bom juízo, vendo as contas que os contadores tomavam a seu amo, disse que não iam certas e, se ele quisesse deixar-lhas fazer com os contadores, esperava em Deus de o livrar, que nada ficasse devendo; porfiando o amo com ele como podia fazer aquilo, pois ele mesmo e outros lhe não podiam dar cabo, como o poderia ele dar, sendo moço? Todavia lhe deixou fazer as contas, com as quais se houve tão bem Bastião Luís e teve tanta habilidade, que as veio acabar sem seu amo ficar devendo coisa alguma a el-rei, com que o amo ficou muito honrado e galardoado com mercês que Sua Alteza lhe fez. E, por el-rei ver a habilidade de Bastião Luís, lhe deu uma feitoria pera a cidade de Goa, onde o serviu muitos anos, na Índia, e, depois que veio ao reino dar suas contas, foram tais e tão boas, que o tornou el-rei a mandar à Índia com cargo de contador-mor, onde esteve muito tempo, até que lá faleceu mui honrado e rico, deixando sua fazenda a parentes seus, a que também em vida fazia bem, por não ser casado.
àcerca (Português (Portugal))
breve historia dos goulart
Desde a imprecisa data do seu descobrimento pelos portugueses, por volta de 1430, o arquipélago dos Açores sofreu, em épocas específicas, deficiências materiais e humanas que marcaram sua existência. Porém, apesar das iniciais dificuldades de desbravamento e ocupação do espaço ilhéu, pela distância e isolamento, suas terras férteis foram um atractivo à colonização portuguesa e depois estrangeira. Pouco a pouco as nove ilhas receberam à medida que foram descobertas gente do continente português, e de locais aonde Portugal mantinha relações político-económicas, como Flandres, principalmente. Isabel de Portugal, filha de D. João I, casada com o Duque de Borgonha, Felipe o Bom, e mãe de Carlos, o Temerário, foi incentivadora ao estabelecimento de uma colónia flamenga nos Açores, quando as lutas desastrosas de seu filho provocaram crises políticas de sobrevivência a gente fidalga e mercadores de Flandres. Assim foi que por volta de 1470 chegaram ao Faial os primeiros flamengos. Depois de uma primeira malograda experiência à procura de metais, Joss van Huetere, flamengo de Bruges, através de manobras políticas, conseguiu casamento com uma dama da Corte portuguesa, Beatriz de Macedo (que servia à mulher do Infante D. Fernando), e a donatária da Ilha do Faial. Segundo o historiador açoriano, Frei Diogo das Chagas, tempos passados, já casado, o flamengo tornou ao Faial, desta vez com um grupo maior de gente preparada para colonizar o território ilhéu. Chegaram artífices, obreiros, marceneiros, e pasteleiros. No grupo de Guilherme da Silveira (Willem van der Haghe), que aportou no último quartel do século XV, vieram um individuo de alcunha Pedro “pasteleiro”, e GOVAERT LODEWIJIK (Goulart Luis), naturais de Flandres, indivíduos que poderíamos hoje dizer, especializados na cultura e produção do pastel. O pastel, planta tintureira que na fermentação de suas folhas dava uma tinta azul muito apreciada e valorizada nas tinturarias de Flandres, foi trazido e plantado na ilha do Faial com grande proveito por Goulart Luis e companheiros. Em pouco tempo, o cultivo se espalhou pelas demais ilhas, principalmente São Miguel, a ponto de se tornar um produto de exportação tão importante economicamente para as ilhas e reino, que o rei passou a estimular a construção de engenhos para moagem e beneficiamento da planta. Tão destacado se tornou Goulart Luis nessa arte tintureira (produção de bolas de pastel) que o rei o mandou para a ilha de São Miguel, onde havia grande cultivo, para exercer o cargo de lealdador-mor (indivíduo que controlava a produção e qualidade das “bolas” de pastel). Goulart Luis deixou então o Faial e fixou definitivamente moradia em São Miguel, até o final de seus dias. Segundo Marcelino Lima (“Goularts”- Monografia Histórico-Genealógica, p. 167), o nome próprio Govaert é que deu origem nos Açores ao apelido Govarte- Gouarte-Gularte. Dos finais do século XV até o século XVIII, essa foi a ortografia usada pelos Goulart açorianos e por aqueles que emigraram para as possessões portuguesas. Mas segundo ainda o historiador, foi o padre açoriano que se transferiu em 1796 para o Brasil, Francisco Vieira Goulart, bacharel em Filosofia, clérigo, poeta e cientista, que por motivo não sabido afrancesou o sobrenome.
Os Goulart se uniram a várias outras famílias dando origem aos Goulart Telles, Garcia Goulart, Goulart da Silveira, Nunes Goulart, Rodrigues Goulart, Medeiros Goulart,...
Segundo conta a história, não se sabe com quem casou, mas sabe-se que teve larga descendência que se espalhou pelas ilhas açorianas e pelas possessões portuguesas.
Notas e referencias bibliográficas:
Genealogias das Quatro Ilhas (Jorge Forjaz e Antonio Ornelas Mendes)
Famílias faialenses (Marcelino Lima)
Anais do Município da Horta (Marcelino Lima)
História dos Açores Vol. I (do descobrimento ao século XX) direcção científica de Artur Teodoro de Matos, Avelino de Freitas de Meneses e José Guilherme Reis Leite.
Lodewijk Govaert, alias Luís Goulart's Timeline
1440 |
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Brugge, West Flanders, Flemish Region, Belgium
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1449 |
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Azores, Portugal
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