Nuno Barreto, 3º senhor do Morgado da Quarteira

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About Nuno Barreto, 3º senhor do Morgado da Quarteira

Portanto, penso que saltaram um Gonçalo Nunes Barreto III, pai de Nuno Barreto, Fernão Pereira Barreto,Afonso Teles Barreto.

Sucedendo a seu pai em 1431, Gonçalo Nunes Barreto III foi confirmado por D. Duarte como fronteiro-mor do Algarve e deste recebeu,20 logo em Dezembro de 1433, uma nova mercê: a doação da renda da portagem e relego de Loulé.

A esta somou-se, em Dezembro de 1436, a confirmação de outra mercê que fora feita ao seu pai em data não mencionada: a alcaidaria-mor de Faro.

Aquela doação veio a constituir-se como o trampolim posterior para o exercício posterior da vedoria da fazenda do Algarve, à medida que avançando o século XV a importância de Silves declinou em prol da ascensão de Tavira e Faro.23 Ainda assim, estas doações não foram suficientes para assegurar a presença de qualquer Barreto na expedição de Tânger de 1437.24 Apesar disso, Gonçalo Nunes Barreto III procurou, sem sucesso, negociar a libertação do Infante D. Fernando.

Foi também durante a década de 1430 que se iniciaram as queixas apresentadas em sucessivas Cortes contra o fidalgo por diferentes concelhos algarvios.

Dedicando-se à criação de gado na sua quinta da Quarteira, Gonçalo Nunes Barreto III foi acusado, em 1436, pelo concelho de Silves de coutar terras concelhias.

O regente D. Pedro ordenou aos corregedores que colocassem termo a tais abusos, mas estes continuaram. Em 1439,

Silves queixou-se de que o fidalgo não pagava as taxas municipais. Em 1442, foi Tavira quem reclamou do fidalgo levar mão-de-obra forçada para Alcoutim.

Em 1444, nova queixa foi apresentada por Silves contra o fidalgo acusando-o de isentar os seus apaniguados do serviço militar obrigatório em Ceuta e de enviar em lugar destes lavradores do concelho. Esta última queixa era feita também contra Henrique Moniz, alcaide-mor de Silves e cunhado de Gonçalo Nunes Barreto III.

Em resposta, o regente solicitou mais informação. Em 1446, Loulé e Faro insurgiram-se contra os repetidos abusos no seu reguengo da Quarteira, aumentando, como resposta, a área de coutada concelhia. No ano seguinte, Silves escreveu ao regente para que ordenasse a Gonçalo Nunes Barreto III que não exorbitasse os seus poderes de fronteiro-mor.

As censuras ao comportamento do fidalgo prolongaram-se para o período de governo de D. Afonso V. Apesar de ter ido a Alfarrobeira ao lado do rei, logo em 1449, o Africano ordenava ao fidalgo que não colocasse em causa os poderes do almirante Rui de Melo em matéria de navios.

Mas ainda nesse ano e em 1458, o rei confirmou ao fidalgo o direito a ver coutadas as suas terras da Quarteira.

O clímax da tensão registou-se em 1456 e 1459 quando Gonçalo Nunes Barreto III e vários dos seus filhos e apaniguados se envolveram em desacatos com moradores de Loulé, os quais terminaram em mortos e feridos.

Porém, o monarca perdoou-o em 1462 e ainda nesse ano autorizou o fidalgo a construir um palácio junto da muralha de Loulé.

Figura odiada em Loulé, Gonçalo Nunes Barreto III era ainda conhecido por apreender o gado concelhio que entrava nas suas terras e não o devolver, o que conflituava com o princípio da utilização comunitária das terras.

Esta situação levou, aliás, o seu herdeiro Nuno Barreto, em 1487, a alcançar um acordo para indemnizar os donos do gado apreendido.

Como justificar a manutenção de Gonçalo Nunes Barreto III como fronteiro-mor durante a regência de D. Pedro e as decisões de D. Afonso V de 1462 ante o perfil de um idalgo que organizava o seu “bando” para resistir às ordens da Coroa em contraste com a carreira do seu pai?

No cerne desta questão, encontra-se não apenas a maior dificuldade da realeza de fazer sentir o seu poder no Algarve, mas também a rede clientelar que o fidalgo construíra e uma clara estratégia de personalização do poder.

Tal rede consubstanciou-se na estratégia matrimonial e patrimonial que o fidalgo tecera precisamente durante aqueles anos.

Em clara diferenciação para com o seu pai que se casara em Ceuta com a bastarda de um conde, Gonçalo Nunes Barreto III casou com D. Isabel Pereira, filha de D. Diogo Pereira, comendador da Ordem de Santiago e governador da Casa do Infante D. João.34

O enlace permitiu ao fidalgo acesso a outra figura real, o Infante D. João, e a uma Ordem Militar, à qual era alheio. 

Mas a sua estratégia de consolidação de poder assentou também numa base regional como os conflitos descritos evidenciam.

De entre a sua descendência, cabe destacar alguns enlaces relevantes:

D. Inês Barreto casou com Henrique Moniz, “O Velho”, alcaide-mor de Silves;

D. Isabel de Meneses casou com Gil de Magalhães, senhor de Ponte da Barca;

D. Leonor Barreto consorciada com Martim Afonso de Melo, filho do alcaide-mor de Serpa.

O primeiro destes enlaces transformava a prole de Henrique Moniz na fundadora do ramo dos Barretos Monizes, mas acima de tudo afigurava- se como uma aliança entre dois senhores com relevantes poderes nos Algarves Ocidental, Central e Oriental, a qual poderia funcionar a contento de ambos.

Esta última aliança foi familiar e política e permitiu a Gonçalo Nunes Barreto III e Henrique Moniz Barreto arregimentarem os servidores das suas Casas para resistirem às ordens da Coroa.

Em causa, estava a vontade de afirmar os seus privilégios senhoriais frente à Coroa. Assim, se explicam as queixas contra ambos apresentadas por Silves em 1446.

Os outros dois enlaces evidenciam como Gonçalo Nunes Barreto III conseguira casar duas filhas com alcaides-mores, algo até então não alcançado e que era uma clara promoção face à descendência de Gonçalo Nunes Barreto II.

A aliança com os Melos é particularmente importante tanto quanto é possível que Gonçalo Nunes Barreto III tenha negociado o enlace do herdeiro Nuno Barreto com D. Leonor de Melo, também ela filha de João de Melo, alcaide-mor de Serpa e copeiro-mor de D. Afonso V,35 e o do secundogénito Pedro Barreto com D. Maria de Ataíde, filha do alcaide-mor de Moura.

Desta forma, reforçava-se a intenção de consolidar o poder da Casa ao casar os seus descendentes com alcaides-mores, como eram os Barretos da Quarteira, na área do Alentejo de forma a complementar e vincar o poder já detido no Algarve. Saia ainda reforçada a ligação à linhagem dos Melos, de onde veio a ser criado o título de 1o conde de Olivença, por D. Afonso V, em 1475, e já no século XVI, a Casa dos condes de Tentúgal e marqueses de Ferreira.

Se juntarmos estes dados à carreira de outro filho de Gonçalo Nunes Barreto III, Fernão Pereira Barreto, cavaleiro da Casa do Infante D. Pedro, que após anos de serviço em Ceuta, foi nomeado, em Março de 1442, corregedor da comarca do Algarve, recebendo ainda nesse ano bens em Ceuta,36 em Faro, em 1445, e a nomeação para coudel-mor de Lagos, em 1449, e ainda as mercês a diversos apaniguados de Gonçalo Nunes Barreto III em 1450,37 é perceptível que este construíra uma rede de influência e poder baseada no seu exercício de poder regional no Algarve.

O objectivo desta rede era estar em condições de defrontar os concelhos que contra ele apresentaram queixa e que lamentaram que ninguém ousava enfrentá-lo, temendo o seu poder.

Contrariamente ao seu pai cuja base essencial da carreira fora prestada em Marrocos, tudo aponta para que Gonçalo Nunes Barreto III tenha investido menos da sua Casa em Marrocos e procurado consolidar as bases algarvias do seu poder.

Esta estratégia foi prosseguida pelo seu filho Nuno Barreto, quando sucedeu na Casa em Fevereiro de 1462.

Nesse momento, D. Afonso V confirmou-lhe outra mercê que o seu pai já detinha desde data incerta: a dízima nova e velha do pescado de Ferrobilhas e da Quarteira.

De fora tinham ficado as sisas e rendimentos de Ferrobilhas, a qual funcionou como porto de Loulé na tentativa de impedir o crescimento de Faro,39 que o rei continuou a reservar para si.

A consolidação do poder da Casa no Algarve permitiu que Nuno Barreto passasse o essencial da sua vida até falecer na região, apesar de ter importante papel no socorro a Ceuta em 1467, o que levou o monarca a autorizá-lo a socorrer Ceuta apenas com os seus homens.

Já em 1473, D. Afonso V patrocinou formalmente o seu casamento ao estabelecer-lhe uma tença de 20 700 reais

Outro dos filhos de Gonçalo Nunes Barreto III, Afonso Teles Barreto, foi também agraciado em 1475 com a doação da portagem e relego de Loulé em função dos seus serviços.

Em causa esteve o facto deste irmão de Nuno Barreto ter sido criado com D. Afonso V, motivo pelo qual D. João II o fez fidalgo da sua Casa e lhe confirmou esta mercê.

Esta situação ajuda ainda a explicar que o reinado de D. João II tenha sido marcado pela confirmação de bens a Nuno Barreto e pela doação de bens ao seu irmão Pedro Barreto no Alentejo em 1486.44 Isto é, mesmo no reinado conhecido pela tentativa de controlo dos poderes senhoriais, tudo aponta para que Nuno Barreto não tenha visto os seus privilégios ameaçados e que ao invés tenha consolidado o poder da sua Casa no Algarve e no Alentejo.

Este cenário explica que D. Manuel I tenha confirmado a Nuno Barreto a autorização para só socorrer Marrocos caso fosse ele a comandar o socorro.

Em contraponto, quem procurou servir directamente D. João II e D. Manuel I foi o herdeiro Rui Barreto, o qual esteve no julgamento do duque de Bragança como um dos 12 membros da nobreza46 e foi nomeado capitão de um navio da armada que foi assaltar Targa em 1490.47

A estratégia de diversificação de contactos no Alentejo manteve-se como ilustra a mercê de 1482 atribuída a um dos filhos de Nuno Barreto, Álvaro Barreto, de ver coutadas as suas terras no termo de Portel em confirmação justificada pelos serviços a D. Afonso V, Infante D. Fernando e ao duque D. Diogo.48

O melhor exemplo, porém, desta estratégia, volta surgir com o herdeiro: Rui Barreto casou-se com D. Brites de Vilhena, sobrinha do 1.º conde de Olivença.

A renovação da aliança matrimonial do herdeiro da Casa com os Melos, entretanto titulados, evidencia o prosseguimento da estratégia de consolidação do poder regional algarvio prosseguida desde Gonçalo Nunes Barreto III, ainda que esta com Nuno Barreto não significasse afrontar a Coroa.

Entre a descendência de Nuno Barreto cabe ainda destaque para o secundogénito Jorge Barreto, cujo papel no reinado manuelino foi relevante, e ainda para D. Isabel de Melo casada com D. Álvaro de Castro, “O Torrão” e mãe de D. Isabel de Castro, esposa de Francisco de Borja, duque de Gandia, mas também para Gonçalo Nunes Barreto, que seguiu uma carreira de armas em Itália ao lado de Gonzalo Fernández de Córdova.50

Assim, novamente se constata uma evolução e promoção da Casa na descendência de Nuno Barreto relativamente à de Gonçalo Nunes Barreto III.

Desta forma, não é exagerado afirmar que os tempos de Gonçalo Nunes Barreto III e Nuno Barreto contribuíram para uma visível consolidação da Casa no cenário algarvio e permitiram lançar o trilho dos seus sucessores: a curialização, a qual no caso de D. Manuel I implicaria sempre um protagonismo maior da Casa em Marrocos.

Naturalmente que esse acréscimo de presença em Marrocos da Casa seria realizado numa posição comparativamente mais reforçada do que aquela que se registara no início do século XV.

Do Algarve ao Império e à titulação: estratégias de nobilitação na Casa dos Barretos da Quarteira (1383- 1599

https://run.unl.pt/bitstream/10362/42885/1/33247_120473_1_PB.pdf