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Primeiros Habitantes de Araçariguama

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Profiles

  • Gaspar Gonçalves Moreira (deceased)
    1-6 Gaspar Gonçalves Moreira, f.º do Cap. 3.º, foi morador em sua fazenda de cultura em Araçariguama, e, segundo escreveu Pedro Taques, foi um paulista de grande veneração e respeito, um potentado, abu...
  • Bento da Gama de Alvarenga Chassim (c.1700 - d.)
    1-3 Capitão=== Bento da Gama de Alvarenga Chassim===, natural de Araçariguama, onde teve seu estabelecimento com fazenda de cultura e engenho de cana de açúcar para destilação de aguardente(1),casou em...
  • Isabel Pais da Silva (1666 - 1716)
  • Maria Garcia Pais Leme (1700 - 1747)
    Nasceu em Araçariguama mas foi batizada em Parnaiba
  • Maria Leite da Silva (c.1714 - 1785)
    Em 12 de outubro de 1777 foi batizado um menino de nome Salvador, exposto em sua casa, de quem foi madrinha junto com seu filho Joaquim da Silveira Leite, então já casado com Ana Maria de Abreu.

Este projeto tem como objetivo criar ou reunir os perfis dos primeiros moradores de Araçariguama.

Para todos os efeitos consideramos aqui as famílias cuja participação foi importante no processo de fundação da cidade bem como os primeiros moradores que, tivessem ou não papel relevante na fundação da cidade, lá viveram até o fim do século XVIII.

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O nome Araçariguama provêm do indígena araçarí-guama que quer dizer bando ou ninhada de araçaris, um tucano miúdo. A denominação de Araçariguama, ou simplesmente Sariguama, conforme se lê em velhos documentos, foi dada a três povoações iniciais diversas, simbolizadas pela construção de suas respectivas capelas, que se distinguem entre si pelos respectivos oragos.

Situada a cerca de 50 km de São Paulo, pertence à região Administrativa de Sorocaba, e sua paróquia, à diocese de Osasco. Faz limites com os municípios de Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba, Cabreúva, Itu e São Roque. Durante quase toda a sua existência foi bairro ou distrito de Santana de Parnaíba e São Roque, até 30 de dezembro de 1991, quando foi elevada a município.

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Em 1590, o mameluco Afonso Sardinha, o velho, conhecido como Capitão-Mor de São Paulo de Piratininga registra ter encontrado ouro de lavagem nas proximidades do Morro do Vuturuna e em 04 de dezembro de 1605 Afonso Sardinha, o moço, data considerada como marco histórico da formação de Araçariguama, inaugurou uma capela aos devotos de Santa Bárbara, a protetora dos mineiros e dos militares, ao pé do Morro do Vuturuna; nos arredores do local hoje conhecido como Morro do Cantagalo, onde se descobriu um outro veio aurífero.

A vila começou a se formar entre 1625 e 1640 com a dispersão e fixação dos fazendeiros e bandeirantes, estes atraídos pelo ouro, a partir de Santana de Parnaíba por áreas próximas, principalmente às margens do ribeirão Araçariguama, afluente da margem esquerda do rio Pirapora. Muitos dos bandeirantes paulistas ali tinham sua morada. Dali saíram em direção ao interior brasileiro, e para suas fazendas posteriormente retornaram com seus carregamentos de ouro, pedras preciosas, ou mesmo centenas de índios capturados.

Em 1648 foi edificada a Capela de Nossa Senhora da Penha, onde Rodrigo Bicudo Chassin deu início ao vilarejo que mais tarde se tornaria o povoado de Araçariguama, sendo construída em taipa de pilão.

Entre 1650 e 1653 foi construída em parte da Fazenda Araçariguama, adquirida pelo Capitão-mor Guilherme Pompeu de Almeida, a Capela de Nossa Senhora da Conceição; nas proximidades do Ribeirão do Colégio, onde hoje esta localizada o Bairro do Rio Acima, constituindo-se no decorrer do tempo na mais importante edificação religiosa em território araçariguamense, principalmente pela notoriedade e respeito da família que mandou construí-la, pois detinham posses em toda a região que ia de São Paulo às Minas Gerais.

Em 1653 a capela foi elevada à condição de paróquia e hoje é a matriz do município e foi uma das mais importantes do território, então pertencente à vila de Parnaíba.
A igreja localiza-se na área central do município e nas proximidades do Morro do Vuturuna.

Em 1738 foi edificada pelo Padre Guilherme Pompeu de Almeida, a capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição tendo sido construída para atender as atividades religiosas dos administradores e escravos das fazendas da família, local hoje conhecido com Sítio dos Barbosa.

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A despeito de ser tão antiga, a maioria das informações que encontramos hoje em dia mostra estes moradores como habitantes de Santana de Parnaíba, já que Araçariguama era dali um bairro. Muitos registros de Araçariguama estão também em São Roque, pois durante muitas décadas, fez parte deste município.

O município comemora, erroneamente, dia 6 de dezembro de 1640 como sendo a data criação da paróquia Nossa Senhora da Penha, a data de sua fundação. Na realidade esta paróquia somente foi desanexada de Santana do Parnaíba em 1701, a despeito de há mais de 50 anos terem ali se estabelecido as ditas três vilas e diversas fazendas.

Os registros de Araçariguama começaram com a criação de sua primeira capela e elevação a freguesia em 1720. No entanto os primeiros registros são esparsos. Naquela época, conforme os moradores morassem mais perto de São Roque, Itu ou Santana de Parnaíba, ali faziam seu registros, mas é certo que ali já estavam por cerca de 100 anos, quando começaram a frequentar a igreja recém-criada na vila. Assim é que muitos dos moradores antigos são considerados moradores de outras freguesias, quando de fato já moravam ali há muito.Somente o estudo cuidadoso dos registros é que pode estabelecer a localização de seus ancestrais nesta ou naquela cidade. Após 1740, com o início de registros regulares pela paróquia as informações são mais acuradas. Os registros anteriores sempre mostram seus habitantes como maturais ou moradores de Santana de Parnaíba ou São Roque.

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Os Fundadores

Moradores comprovados

Personalidades

A fundação da Capela de Nossa Senhora da Piedade

A primeira das capelas de Araçariguama, segundo D. Duarte Leopoldo, Arcebispo de São Paulo, publicado em 1926:

É a mais antiga povoação dêsse nome, de que existem apenas vestigios, a uns dois kilómetros da villa, onde hoje é a chácara de Vicente José de Araújo, na estrada de Pirapóra.

A capella de N. Senhora da Piedade, cuja fundação remonta a 1653, ainda existia em 1768, porém já decadente e arruinada, sem embargo das providências do visitador António José de Abrêu. Em provimento de fevereiro dêsse anno, dispôs elle o seguinte:

"A administradora da Capella de N. S. da Piedade Cuidará no tr.° de Seis mezes em fazer Concertar, e Caso não possa Ser isso ao menos derribar a torre, q. por Ser de madeyra e estar exposta a injuria do Tempo, por falta de reboque ameaça ruina, e o mais he q. pode damnificar a Capella e Cahir sobre ella : Consta q. a def.ta D. Maria Rybr.ª Leyte deyxou trezentos mil reis p.ª Concerto e reparo da mesma Capella: dos juros deste dr.° Se pode fazer o pred.º Concerto." Era então vigário o Padre Manuel de Barros, que parece não ter dado cumprimento ás providências do visitador, sendo a imágem de N. S. da Piedade trasladada para a villa, onde ainda hoje se venera.

Da fundação de Araçariguâma, menos acertadamente escreve Azevedo Marques, aliás paciente e criterioso investigador:

"Pequena povoação que deve a sua origem á influência dos notáveis paulistas capitão-mór Guilherme Pompêu de Almeida, seu filho o Padre Dr. Guilherme Pompêu de Almeida e Francisco Rodrigues Penteado, que ahi edifcaram a capella, depois matriz da paróchia, por esforços do Padre Belchiór de Pontes. Do liv. 1.° de Registro de Provisões da Câmara Episcopal consta que, em 1653, foi a paróchia desmembrada de Parnahyba, com a invocação de N. Senhora da Penha."

Ha engano. Só muito mais tarde - informa o vigário collado de Parnahyba, Padre João Gonsalves de Lima - "em o anno de mil sette centos e hum foi desmembrada desta Matriz (de Parnahyba) a Capella de Nossa Senhora da Penha de Araçariguâma, e Creada em Freguezia, hoje Collada..."

Azevedo Marques não viu o termo ou decreto de erecção da paróchia, que só se poderia encontrar na Cúria do Rio de Janeiro; más tão sómente uma provisão de vigário ou de capella, passada na Cúria de S. Paulo, após a creação desta Diocese em 1745. A provisão de vigário seria em favôr da capella da Penha, elevada á categoria de paróchia em 1701, mas a capella a que se relere o primeiro livro de registros da Cúria de São Paulo, só póde sêr a de N. Senhora da Piedade, instituida em 1653, onde, segundo o costume, é possivel tivessem os missionários jurisdicção quasi parochial.

Continúa o engano quanto aos fundadôres das capellas de Araçariguâma, confundidas sob a mesma denominação.

Em 1653, não podia o Padre Belchiór de Pontes, que então contava apenas dez annos de idade, contribuir pâra a fundação de nenhuma das capellas. A sua residência em Araçariguâma, de 1717 a 1719, foi de dous annos incompletos, não lhe consentindo o afanoso ministério mais tempo que o necessário pâra dispôr e preparar o alargamento da capella de N. Senhora da Conceição, fundada pelo Padre Guilherme.

Nem este, nem seu pae, e muito menos o Padre Belchiór, tiveram ingerência na fundação da capella e povoação, onde hoje é a paróchia de N. Senhora da Penha, na villa de Araçariguâma, instituida, paramentada e dotada pelo capitão-mór Rodrigo Bicudo Chassim.

Provém a confusão de se não haverem distinguido as três povoaçöes vizinhas, a cada uma das quaes está ligado o nome de um dos fundadores, com absoluta exclusão do capitão Guilherme Pompêu.

Cabe a primazia da fundação de Araçariguâma a Francisco Rodrigues Penteado, o velho, natural de Pernambuco, exímio no tanger da vióla e destro na arte da música, em que pese aos que, na esteira de Azevedo Marques, attribuem o primeiro povoamento a um seu filho de igual nome e appellido.

De facto. Tendo fallecido em Parnahyba, em 1737, não poderia Rodrigues Penteado, o môço, marido de D. Anna Ribeiro Leite, ter fundado a povoação e capella em 1653, ou seja a 84 annos de distância.

Estabelecendo-se em Parnahyba, após o seu casamento com D. Clara de Miranda, filha de Antônio Rodrigues de Miranda e de D. Potência Leite, teve ahi grandes culturas que se estendiam á sua fazenda de Araçariguâma.

Falleceu a 13 de novembro de 1678, deixando do seu consórcio, além de outros, um filho de igual nome, notável sertanista, enriquecido na exploração de ouro em Minas Geraes, casado com sua Prima, D. Anna Ribeiro Leite.

No citado provimento de fevereiro de 1768, refere-se o visitador Antônio José de Abrêu, a uma D. Maria Ribeiro Leite, que havia legado a importância de trezentos mil réis á capella de N. Senhora da Piedade. Si é que houve erro do visitador, trocando-lhe o nome de Anna por Maria, seria essa senhora a própria mulhér de Rodrigues Penteado, o môço, nora portanto do fundador. Essa hypóthese é, aliás, perfeitamente admissível, considerando-se que a administração das capellas e igrêjas costumava transmittir-se aos descendentes dos seus fundadôres.

Como quer que seja, a julgar pelo avultado da doação, Anna ou Maria Ribeiro Leite devêra ter sido pessôa de qualidade e abastança, intimamente ligada á família de Rodrigues Penteado.

A Rodrigues Penteado, o môço, succedeu na administração da capella seu filho mais velho, o Padre Lourenço Leite Penteado, mestre em artes pelo collégio dos jesuitas, cônego da Sé de S. Paulo, vigário capitular, séde vacante, pelo fallecimento de D. Bernardo Rodrigues Nogueira, primeiro Bispo de S. Paulo, fallecido em 1752. Frequentava assiduamente a paróchia, onde celebrou diversos baptisados e casamentos de amigos ou parentes.

Vindo a fallecer o Cônego Lourenço Leite em 1752, veiu de Cuyaba seu irmão, Francisco Xaviér de Sales, a "tomar conta da casa e capella de N. Senhora da Piedade, mâs durou tão pouco tempo - informa Pedro Taques - que serviu a sua vinda pâra fazer mais sentida a sua morte aos parentes de S. Paulo."

Favorecido com excellentes predicados de intelligência e coração, chegou a receber no collégio dos jesuitas, o capêllo de mestre em artes. Abandonou, porém, a carreira ecclesiástica por seguir o natural pendôr daquelles tempos que o chamava, de preferência, pâra a vida aventureira do sertão. Passou-se pâra as minas de Cuyabá, onde, com ser pródigo e desperdiçado, conquistou grandes cabedaes e não menor reputação de homem honrado, cabendo-lhe o primeiro voto nas assembléas da república e, mais tarde, o pôsto de sargento-mór do regimento alli creado por Rodrigo César de Menêzes.

Por morte de Francisco Xaviér de Sales em 1759, passou a capella de N. Senhora da Piedade a uma administradôra, cujo nome se ignora, porém, com tão má fortuna que, já em 1768, reclamava as inúteis providências do visitador Abrêu. Assim é de suppôr que, por então, se fizesse a trasladação da imágem pâra a capella de N. Senhora da Penha, onde hoje tem assento a villa de Araçariguâma, vindo a cahir a primitiva povoiação em completa ruína e total esquecimento.

A Capela de Nossa Senhora da Penha

Matriz de Araçariguama, segundo D. Duarte: Está situada a capella de N. Senhora da Penha onde hoje é a villa e paróchia de Araçariguâma, cuja fundaçâo tem sido erradamente attribuida a Rodrigues Penteado e aos dois Pompêus, com o problemático concurso do Padre Belchiór de Pontes.

Em uma das suas fazendas, nas proximidades da villa, teve o capitão-mór Guilherme Pompêu uma capella que já não existia em 1701, ao tempo da instituição da paróchia, a qual, diz o Padre Manuel da Fonsêca, "conservando-de com o seu mesmo lustre todo o tempo que êlle a administrou, tanto que por sua morte passou a terceiro administrador da mesma familia, acabou com tanta pressa, que não chegou a durar seis annos, podendo dizer-se della o que de Tróia disse o poeta : campus, ubi Troia fuit".

Ora tendo fallecido o capitão-mór em 1691, já em 1697 estaria em ruinas a sua capella, - quatro annos antes da fundação da paróchia. Entretanto, o arrazamento total da capella talvez fôsse encarecimento do autor da vida do Padre Belchiór, pois que o provimento do visitador Abrêu, em fevereiro de 1768, parece referir-se a essa mesma capella, cuja telha e madeiramento mandou se acautelasse:

"P.ª q. Se não perca a telha q. se acha na Igr.ª Velha o fabriq.ro e o R .do Parocho a mandará Logo tirar e pôr em Lugar Seguro e da mesma telha e madeyra Se não usará Se não pª Igr.ª e não Servindo p.ª ella observará o R .do Parocho o q. a este resp.to determina a Const.". O capitão-mór Guilherme Pompêu de Almeida era natural de S. Paulo, filho de Pedro Taques, natural de Setúbal, e de D. Anna Proença natural de S. Paulo, casado em 1639 com D. Maria de Lima Pedrôso, filha do destemido paulista denominado o terror dos índios, João Pedrôso de Moraes e de D. Maria de Lima.

Falleceu o capitão Guilherme em Parnahyba, a 12 de novembro de 1691, onde jaz sepultado na capella mór da matriz. Do seu testamento constam diversos legados á matriz e á capella de Voturúna, dos quaes em seu lugar se dará conta.

Da sua immensa abastança restam apenas quatro castiçaes de prata, na capella do SS. Sacramento em Parnahyba, trazidos da arruinada e velha capella de Voturúna.

Nem Pedro Taques, nem o Padre Manuel da Fonsêca, nem mesmo o Padre Guilherme em seu testamento, attribuem ao capitão-môr Guilherme Pompêu a fundação da capella de N. Senhora da Penha, onde hoje se acha a villa de Araçariguâma, mas tão sómente a de Voturúrna em Parnahyba, que, por ser da mesma invocação, se tem confundido com a do Padre Guilherme no bairro do collégio, em Araçariguâma.

Nem por isso, fica menos ennobrecida a sympáthica ainda que modesta villa de Araçariguâma, cujo verdadeiro fundador - o capitão-mór Rodrigo Bicudo Chassim - foi dos mais nobres e opulentos do seu tempo.

A paróchia de Araçariguâma foi visitada, a 18 de fevereiro de 1728, por D. Fr. Antônio de Guadalupe, Bispo do Rio de Janeiro, á cuja jurisdicção pertençia o território de S. Paulo.

A 12 de maio de 1772, visitou-a o Sr. D. Fr. Manuel da Resurreição, Bispo de São Paulo, que encontrou a matriz em péssimas condições, a paróchia mal curada, como se vê do seu provimento:

"Com grande mágua nossa, nascida sem dúvida de um paternal affecto, achámos não se conservar no Sacrário o Santissimo Sacramento, senão no tempo da Quaresma, vindo por esta causa a perecer a mayor parte do povo desta freg. privada daquelle espiritual viatico, com que se podiam fortalecer as suas almas contra o combate do inimigo, e querendo remediar tão grande damno, ordenamos que daqui em deante se conserve sempre o Santissimo Sacram.to no Sacrário, e que o Fabriqueiro dos juros que annualmente deve cobrar dos duzentos e cincoenta mil reis, que deixou em Legado Maria Pires de Camargo, p.ª Se fazer a Semana Santa assista com azeite p,ª a Lampada, pois p.ª isso applicamos os d.os juros.

"Como a Igreja necessite de algumas obras mais precisas Como São o corredor da parte em que esta a escada, que vai p.ª o Coro, o assoalhar a Igreja, e o Concerto do forro da Capella-mor, advertimos ao R.do Parocho que cuide Com toda brevid.de em tudo isto p.ª o que applicamos os juros todos, que athé agora tem rendido os duzentos mil reis, acima declarados, p.ª as ditas Obras, e Concerto, e ordenamos ao Fabriq.ro que no termo de trez mezes Cuide em Cobrar tudo q.to se está devendo a Fabrica, e assim mais os quatrocentos mil reis que deixou em Legado Rodrigo Bicudo Chassim p.ª dos seus Juros Se fazer todos os annos a festa de N. S.ª da Penha Padroeyra desta freg.ª Com pena de haver de seus bens todo e qualquer prejuizo que por sua omijsâo tiver a igreja e Fabrica ."

Era então vigário o Padre Antônio Ferreira Meirelles que, si fez os reparos ordenados com tanta urgência e obrigação, não lhes deu tanta importância que aturassem por largo tempo. A 19 de outubro de 1814, o visitador, Antônio Joaquim de Abrêu, ordenava "novos reparos e concertos em toda a igrêja, á vista do estado ruinoso em que se encontrava". Em 1833, 0utro visitador, Antônio Paes de Camargo, insistia ainda pela reconstrucção da matriz, cujas obras só tiveram impulso no parochiato do Padre Manuel Zeferino de Oliveira, por alcunha , o Padre Araçá, cujo ministério se prolongou de 1856 a 1888.

O Padre Pêdro Gravina, Vigário de S. Roque, á cuja estola se achava annaxa a de Araçariguâma, continuou, de algum modo, os trabalhos do Padre Zeferino, deixando ainda por concluir a parte posterior da igrêja e suas dependências, desprovidas de fôrro, soalho e janellas.

Sufficientemente vasta e de construcção sólida, porém de estylo chão e commum, não recorda a nova igrêja absolutamente nada dos tempos primitivos, a não ser por um bello sacrário de talha dourada e algumas imagens não profanadas pela ignorância dos reincarnadôres.

A decadência da povoação, elevada á categoria de villa por lei provincial de 16 de abril de 1874, data do fallecimento do Padre Manuel Zeferino de Oliveira.

O estado moral da paróchia, principalmente da villa, é o que se póde esperar de uma população ha uns trinta annos abandonada. Desde a morte do Padre Zeferino, salvo pequenos intervallos, tem estado successivamente annexa ás estolas de Parnahyba, S. Roque e Pirapóra.

Os cônegos regulares de S. Norberto, professôres do Seminário Menór de Pirapóra, lhe têm prestado, ultimamente, bons serviços, salvando-a da inanição religiosa a que parecia fatalmente condemnada. Nestes últimos annos estabeleçêram-se, na vizinhança, umas cem familias procedentes de Santo Amaro, contribuindo efficazmente pâra uma quasi ressureição do municipio.

A população é pobre e indolente, composta de modestos sitiantes, rotineiros, apáthicos, sem ambiçöes, sem ideáes. Accrescentem-se a isto os disparates de uma politicágem de aldeia, verdadeiramente inopportuna, e estará completo o quadro de uma população que se vai deixando morrer, a pouco e pouco, na mais lamentável das inconsciências.

Diga-se, todavia, que, conhecida a bôa indole da nossa gente, um bom padre, desprendido bastante pâra sujeitar-se ao insulamento e monotonia da villa, colheria, com algum esforço, farta messe de bençams e consolações.

É tradicção que a velha matriz de Araçariguâma era senhora e possuidôra de um pesadissimo ostensório de ouro, procedente das minas de Voturúna. Viéra do collégio dos jesuitas - diziam uns; fôra do Padre Pompêu - afirmavam outros.

Guardado sempre em segrêdo por um dos habitantes da villa, cujo nome só de poucos era sabido, - as precauções de que o cercavam crearam-lhe em torno uma atmosphera sugestiva, a que não escaparam sacerdotes cultos e intelligentes. Nas grandes festas e procissões solemnes, era trazido, não se sabe donde, pâra a igrêja matriz, sempre escoltado e vigiado de perto pelos moradôres da villa. Assiin o tinham visto muitos padre; muitos visitantes o tinham examinado.

Verificado o nenhum valor da fabulosa alfaia, desfez-se a lenda... mas ainda há quem lhe dê curso, no falso presupposto de uma substituição impossivel.

Como quer que sêja, serviu a lenda de evidenciar o carácter do cabôclo paulista, simples, leal e homesto. O último depositário do famoso legado do Padre Pompêu, teve-o, por mais de 25 annos, occulto na mata, no desvão de uma pedreira, só dêlle conhecido, donde segretamente o retirava para as grandes solemnidades.

Homem simples e rude, pobre, rodeado de numerosa prole, curtindo privaçõs, apertado de angústias e temôres, jamáis o desamparou o sentimento de que devia á confiança dos seus conterrâneos, e entretanto... suppunha êlle ter, nas mãos, um thesouro que se avaliava em mais de quarenta contos de réis.

Descoberto o engano em 1908, premiaram-lhe a fidelidade de 25 longos annos, com um donativo de quinhentos mil réis, cinco vezes mais que o valor real do celebre depósito. Benedito António de Athayde era o thesouro de Araçariguâma, era um ostensório do caracter paulista, cujo nome bem é que recordemos a uma geração que já não sente o orgulho da sua raça, nem mais possúe o sentimento da própria nacionalidade.

A Capela de Nossa Senhora da Conceição

Esta é a capella do Padre Guilherme Pompêu, a uns três kilómetros da villa, no bairro do Collégio, onde tiveram os jesuitas pequena e modesta residência, que imaginosos chronistas transformaram em grande e próspero collégio, á similhança da casa de S. Paulo.

Receberam-na os jesuitas por herança do Padre Guilherme, dando-lhe por primeiro superior ao Padre Belchiór de Pontes que, já então, havia terminado a construcção da bella igrêja de M'Boy.

Ahi funccionou o celebre thaumaturgo de 1717 a 1719, mâs de seus successôres só vagas notícias se podem rastrear, pesquizando os livros da paróchia.

Não se póde determinar a época em que os Padres da Companhia deixaram definitivamente a residência de Araçariguâma. Sabe-se, porém, que, em 1741, ainda o Padre Domingos Machado se encontrava por superior da residência. Seguiu-se-lhe o Padre Antônio Bacellar, que, tendo ahi residido de 1731 - 1736, reapparece como superior em 1746 - 1747.

Como quer que sêja, já em 1790 tinha o Collégio nôvo capellão, que então era Frei João de Sant'Anna Costa, religioso da Ordem de N. Senhora do Carmo.

Ao invés de reconstruirem a capella que, em 1904, ainda se poderia salvar, tiveram os moradôres do bairro a infeliz idéa de a subtistituir por uma ermida de beira de estrada, sem aproveitar siquer o altar que, facilmente, podia ser reconstruido. Ahi está, nessa capella horrivel, na márgem oposta do ribeirão, a imágem de N. S. da Conceição, vestigio único de aventurosas empresas e galhardias de enthusiasmo religioso.

Invadida pela mata, na sua pujança profanadôra de vetustos e phantasticos solares, da modesta residência restam apenas apagados alicerces, que os suôres do administrado não endureçeram, de todo, contra as injulrias do tempo. Não passaria ella de um casarão de taipa, grave e sevéro, ainda assim, magnifico naquellas brenhas e naquelles tempos, refúgio permanente de três ou quatro missionários e... não mais.

Pendurada na encosta de suave collina, á pouca distância do ribeirão, inconsciente de tanta fama e tão fabullada grandeza, não se vê onde pudesse haver alli capacidade para essa "área murada que servia de páteo á capella da fazenda, e que mediria mais de dous hectares".

No terreno circunjacente, irregular, montuoso, não lograria a phantasia de um oriental desdobrar "essa planície que se estendia em frente ao pórtico do páteo da sumptuosa vivenda, onde renques de cabãnas, levantadas ás pressas, serviam de abrigo á basta chusma de criados indigenas e estranjeiros, de todas as raças, de todas as condições, que poa ahi estanceavam".

Onde estariam ahi "em quartos dispostos em galeria, sôb cúpulas custosas, cem camas de alto, de jacarandá envernizado, convidando corpos lassos ao repouso, ostentando colchões estofados e travesseiros macios, dignos do mais requintado sybarita".

Quanta tristeza, que indizivel amargura há de sentir o pobre cabôclo, que hoje têm alli assento mesquinho e desconsolado, ao ouvir phantasiadas narrativas que, sem inspirar-lhe saudades de um passado problemático, não lhe estimúlam siquér a vontade de viver!

Si lhe falais das colchas de velludo brosladas de ouro, da bretãnha deslumbrante dos lençóes arrendados e das fronhas crivadas, das bacias de prata, dos gomis e dos candelabros em que vagarosamente se consumiam bugias perfumadas... si lhe descreveis, com enthusiasmos de erudito e ingenuidades de patriota, as varandas espaçosas e os opiparos banquetes do Creso Americano, - o cabôclo olha em tôrno de si e... ri-se desconfiado e triste.

Que importa? A enorme abastança do Padre Guilherme Pompêu posta em voga por Pedro Taques - ainda que não verificada em seu testamento - bem pudera abrir caminho pâra uma lenda que, lisongeando vaidades de família, não era de todo inverosimil em terra de sertanistas e bandeirantes.

Letrado e opulento, o Padre Guilherme confessára, em seu testamento, uma fraqueza que lhe deslustrava o caracter sacerdotal, e era preciso que á lenda accrescêsse também o romance histórico, tanto mais histórico quanto mais hostil e calumnioso á Companhia de Jesus.

Devotissimo de N. Senhora da Conceição, cujo culto nos veiu para S. Paulo com Martim Affonso e propagado, ao depois, pelo zêlo ardente do venerável Padre Anchiêta, fundou o Padre Guilherme, em sua fazenda de Araçariguâma, pequena e mimosa capella que foi, mais tarde, a capella-mór da pequena igrêja construida pelos successôres do Padre Belchiór de Pontes.

Essa capella-mór - a capella primitiva do Padre Guilherme - ainda hôje se pôde vêr, arruinada, mâs ainda de pé, fazendo fundo a umas ruinas de taipa, onde se divisa claramente a nave accrescida pelos jesuitas. "Ainda, que era pequena na fábrica - diz Manuel da Fonsêca - enriqueceu-a o Padre Guilherme com retábulo de talha dourada", cujos restos jazem esparsos em um recanto da que devêra ser a acanhada sacristia.

"Tanto que nella se viu o Padre Pontes - continúa o chronista do Padre Belchiór - attendendo á pequenez do lugar, ao populoso da vizinhança, e aos grandes concursos, que de várias partes se ajuntavam não só nas festas annuais mas ainda na Quaresma e outros dias mais solennes, pâra receberem dos obreiros, que alli pôe a Companhia, o fructo dos sacramentos, e pregações; intentou nova fabrica, na qual se achasse capacidade pâra receber tanta multidão: mas ainda que pôs alguns meios para o conseguir, comtudo quis Deus premiar-lhe sómente os bons desejos, reservando a glória de a conseguir para outros sujeitos, os quaes formando na parêde antiga da primeira Capella hum formoso arco, a deixaram pâra Capella-mór da nova lgrêja, na qual se vê já não sómente a capacidade, que para os concursos desejava o Padre Pontes, mas também se admira conservada sempre a memória, e devoção do seu primeiro autor ".

Qual fosse "o populoso da vizinhança e a grandeza dos concursos, que de várias partes se ajuntavam nas festas annuáis", bem se póde vêr da estreiteza da arruinada nave, onde mal e apenas se poderiam reunir umas oitenta ou cem pessôas.

E esta foi a explendida basílica onde se celebravam, com desusada pompa e festas de arraial, oitavários magnifiços de missas cantadas, com Sacramento exposto e sermão, aos quaes accudia toda a nobreza e clerezia paulistana! ...

Não é, pois, de extranhar que, attrahidos do nome e opulência do grande Pompêu, ahi estanceassem, deslumbrando o selvágem, offuscando a elegância sertanêja do bandeirante, bispos gregos e patriarcas da Ethiópia - cousa tão extraordinâria e inaudita, que até passou despercebida aos padres, da Companhia!

Não fôssem os jesuitas tão empenhados na converção do gentio, e não lhes passaria a azada oportunidade de conciliar sympathias com o prestígio dos illustres visitantes. O apagar, tão por completo, os vestigios prelatícios de seus hóspedes, foi, de certo, amarga ironia do padre sybarita, que dêlles só deixou notícia nas chrónicas genealógicas de Pedro Taques.

Generozo e lauto hospedeiro dos exóticos prelados, bem era que ao sumptioso sacerdote não faltasse o curioso título de bispo missionário, pôsto só lhe servisse de tratatmento decorativo em pomposo necrológio. Não passaria aquella honorificência do título plelaticio de protonotário; mâs, ainda assim, não se comprehende por que os padres da Companhia lhe deram no epitáphio, a simples qualidade de presbytero.

Houve, de certo, quem pensasse em constituí-lo "em Prelado maiór, pôsto fôsee êlle sujeito por demais amante do seu socêgo e quietação." Não passava o pensamento do governador do Rio de Janeiro, Arthur Sá de Menezes, em carta ao rei de Portugal, da creaçâo de uma prelazia com que se attendessem ás necessidades espirituaes da capitania de S. Paulo, e ainda isso não mereceu as atenções da cathólica magestade portuguêsa.

Si, pois, foi ingenuidade ou fraqueza de Pedro Taques o dar vulto e encarecimento a uma figura que, por illustre, o dispensava, mal se tolera hoje em chronísta de tanto mérito. Não é que lhe neguemos reaes serviços prestados á história paulista, mâs... Pedro Taques excedeu-se, e não é razão por que lhe conservemos, no caso vertente, autoridade incontestada.

Como quer que seja, deixemos espaço pâra a lenda que, sem embargo, não é pequena moldura pâra o caracter paulista, aventureiro, nobre, generoso e profundamente crente: O Padre Guilherme Pompêu de Almeida