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Julius Menz

Also Known As: "Iules", "Júlio"
Birthdate:
Birthplace: Gosbolz-Weitnau, Kempten, Bayern, Germany
Death: August 04, 1946 (57)
Rolante, Rio Grande do Sul, Brazil (Câncer)
Place of Burial: Rolante, Rolante, RS, Brasil, RS, Brasil
Immediate Family:

Son of Josef-Alois Menz and Josefa Hofer
Husband of Bertha Kolb and Maria Lydia Morschel Menz
Father of Josefina Menz de Ortlieb (Finchen); Aloysio Menz; Centalina Menz 'Crescência'; Pedro Nolasco Menz; Egon Menz and 3 others
Brother of Maria Josefa Menz "Schwester Tolentina"; Michael Menz "Miguel"; Johann-Baptist Menz "Baptist"; Maria Agatha (Menz) Zengerle 'Agathe'; Maria Kreszentia Hohl and 9 others

Occupation: Industrial de Laticínios; Agropecuarista
Managed by: Carlos Frederico Menz
Last Updated:

About Julius Menz

I. O BRASÃO DA FAMILIA MENZ.

A respeito do BRASÃO da Familia Menz, Walter Menz II fez o seguinte e pertinente comentário:

"Dada a evidente relação com a fecundidade, representada, inclusive, nas obras de Boticelli e Ticiano (nascimento de Vênus), é compreensível que o significado da concha tenha evoluído para sorte - pois pode conter a pérola - e para morte, pois quem conquistou a casa (a concha) desalojou aquele que a ocupava".

A partir disto, temos um relação que pode estar apontando para a Maçonaria.

Primeiro, em vista do simbolismo das três conchas entrelaçadas com o esquadro. Depois pelo simbolismo das conchas, enquanto vazias, relacionado com morte e o renascimento. Alguém, 'matou' quem ocupava a 'casa', transformando a 'casa' em "casa da viúva".

Todos sabem que os Maçons são os "filhos da viúva".

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II. COMO ERA A EUROPA NO PRÉ-GUERRA 1914-1918.

Um dos fatos registrados no filme-documentário "As Batalhas da I Guerra Mundial - Conflitos de Impérios" a merecer destaque é o de que:

"Em 1901, e nos treze anos que se seguiram, os povos da Europa ocidental e os da América de língua inglesa, tornavam-se grandes consumidores ao invés de guerreiros. Automóveis, motocicletas, dirigíveis, trens elétricos e submarinos, eram novidades para suprir o crescente tempo livre. Uma classe média emergente esperava por cada vez mais, anos de progresso com mais prosperidade e mais paz.(...).

Para muitos, naquele quente e ensolarado verão de 1914, o mais bonito da história, a Europa tinha virado uma espécie de Éden.(...). Os britânicos de classes média e alta em particular, viviam em um mundo ideal onde as realidades econômicas manteriam os Grandes Poderes da Europa longe de travarem guerras entre si.

Para aqueles de renda confortável, o mundo de seu tempo era mais livre do que é hoje. Até agosto de 1914, um inglês sensato, tolerante à lei, poderia passar pela vida e mal notar a existência do Estado. Você poderia viver onde e como quisesse. Você poderia ir a qualquer lugar do mundo sem qualquer tipo de permissão. Para a maioria dos lugares não era preciso passaporte. E muitos nem o tinham. O geógrafo francês André Siegfried viajou por todo o mundo sem nenhuma identificação afora o seu cartão de visita. Era um tempo de livre fluxo de capital e livre movimentação de pessoas e bens. Havia mais globalização naquela época do que hoje".

Esse era o mundo em que Julius Menz e sua esposa Bertha Kolb Menz viviam quando, em 1912, casaram e vieram ao Brasil. Não vieram espremidos pela necessidade, mas em busca de aventura, de novas oportunidades de vida e de negócios. Vieram tangidos pela ânsia de conhecer o novo, em tudo diferente daquilo que estavam acostumados a ver.

Particularmente quanto à documentação exigida para viajar, considerando o que acima foi transcrito sobre os costumes da época, é de se considerar que talvez não carregassem quase nada. É certo que Julius trouxe consigo seu documento de Reservista, que este era necessário só para o caso de mobilização militar da Alemanha, a que estava obrigado pelas leis de sua terra. É possivel que, no Brasil, nem sequer tivessem lhe pedido os documentos ou passaporte.

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(O que aí vai registrado é fruto de muita pesquisa documental e oral. Por um longo período de tempo, andei entrevistando os mais velhos. A tia Finchen - verdadeiro repositório das memórias da Familia, cheguei a entrevistar duas vezes - uma em sua casa de veraneio em Punta del Leste, Uruguay, e outra em sua residência de Buenos Aires, Argentina, registrando imediatamente as anotações pertinentes.

Todavia, a memória humana, sabem todos, é fraca, e com o passar dos anos pode conduzir a erros lastimáveis.

Por isto mesmo, não descuro de pesquisar os documentos e fazer eventuais cotejos entre o que me foi relatado e o que se encontra documentado.

O trabalho, afianço a todos, está longe de ser concluído. Existe mais de um milhar de cartas esperando para ser lido e desvelar em definitivo o que foi a verdadeira história da nossa familia.

Abraços a todos. Walter Menz II).

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III. O EMIGRANTE JULIUS MENZ.

Julius era o 6º filho do casal Josef-Alois/Josefa. Seu apelido era "Iules". Nasceu em 02.12.1888 e faleceu em 04 de agosto de 1946. Segundo registra o documento de pesquisa da árvore genealógica (Aus der Ahnentafel entnommen), casou em 14.03.1912 com a Damenschneiderin (literalmente: alfaiata para damas) Berta(sic) Kolb, de Isnyerberg (Morro Isny) e com ela teve 8 filhos. Viúvo, poucos anos antes de falecer, convolou núpcias com Maria Lydia Morschel. Seus restos mortais descansam no cemitério de Riozinho, antigo município de Rolante, RS, Brasil.

Assinalo que a lápide do túmulo de Julius Menz em Riozinho registra a data do óbito como tendo ocorrido em 03.08.1946, nada obstante existam diversos documentos que anotam o dia 04 de agosto. Como, até hoje, não consegui acessar a Certidão de Óbito, concluo, até prova em contrário, que o falecimento efetivamente ocorreu no dia 03 de agosto de 1946 e o enterro foi no dia seguinte, 04 de agosto.

IV. - DOCUMENTAÇÃO DE JULIUS.

A). Documento Militar: O "Erfassreservepass des Erfassreservisten", emitido pelo Bezirkskommando Ravensburg (riscado e substituído por Biberach), registra o Jahresklasse 1908 (Classe de 1908). Apresentações: foram feitas 12 na Alemanha e 1 no Brasil:

1. Angemeldet für Biberberg; Mindelheim, 9.6.1909; 2. Abgemeldet nach Unterknöringen, Mindelheim, 5.10.1909; 3. Angemeldet für Unterknöringen, Dillingen, 05.10.1909; 4. Abgemeldet nach Schließlang, Dillingen, 26.2.1910; 5. Angemeldet für Schließlang/Großholzleute, Leutkirch, 21.?.1910; 6. Abgemeldet nach Boos, Leutkirch, 6.7.1910; 7. Angemeldet für Boos, Mindelheim, 9.7.1910; 8. Abgemeldet nach Schönebach, Mindelheim, 23.1.1911; 9. Angemeldet für Schönebach, Augsburg, 16.2.1911; 10. Abgemeldet nach Schließlang/Großholzleute, Augsburg, 22.3.1911; 11. Angemeldet für Schließlang/Großholzleute, Leutkirch, 27.3.1911; 12. Abgemeldet nach Amerika, Leutkirch, 6.2.1912. A última apresentação data de 1914 e foi feita no Consulado Geral do Império Alemão em Porto Alegre, por causa do início da 1ª GG.

(Para os que não sabem, ou, sabem falar mas não lêem o alemão: como entender o significado dos registros dessas apresentações? Tome-se, a exemplo, a última apresentação - Abgemeldet nach Amerika, Leutkirch, 6.2.1912 - caso em que Julius apresentou-se na cidade de Leutkirch, na data de 6 de fevereiro de 1912, visando partir para a América. Já a anotação - Angemeldet für Biberberg; Mindelheim, 9.6.1909 - significa que Julius se apresentou na cidade de Mindelheim, avisando que ficaria em Biberberg, uma localidade dentro daquele município, ou, pertencente à mesma circunscrição militar).

B). Documento Escolar: Em 29 de dezembro de 1910, na cidade de Boos, a Handwerkskammer für Schwaben und Denburg expediu-lhe um Certificado de Formatura: Geßellen-Prüfungs-Beugnis. A partir daquela data, Julius estava habilitado à profissão de técnico em laticínios, produção de queijos e correlatos, inclusive, à prática veterinária. Fotografia tirada na época mostra que eram 6 alunos e 3 professores. O filho Lois consignou no verso da fotografia: Lehrer und Kollegen von Julius Menz in der Molkereischule in Boos (Bayern) am 29.12.1910. Tradução: Professores e Colegas de Julius Menz na Escola de Leitaria em Boos (Baviera), em 29.12.1910.

C). Salvos-Conduto: Em 04 de outubro de 1932 a Delegacia de Polícia de São Sebastião do Cahy forneceu-lhe um Salvo Conducto. Julius estava então na casa dos 44 anos. Mas, o documento informa equivocamente que seu nome é Julio Menz e que seu pai era Aluizio Menz. Está assinado pelo Delegado de Polícia Reynaldo C. Veeck. Referido documento consigna: “Nenhum impedimento existe a respeito do portador, pelo que as autoridades que deste tiverem conhecimento não deverão oppor-lhe quaesquer embaraços.”.

D). Em 15 de março de 1944, foi-lhe expedido novo salvo-conduto, desta feita pelo Sub-delegado Álvaro Pinho D'Oliveira, do 6º Distrito de Santo Antônio da Patrulha, Vila Rolante. Destinou-se ao fim especial de viajar de Vila Rolante a Estrêla, com a observação de que não poderia ser visado ou revalidado para as localidades da fronteira ou litoral. Dito documento ainda veio a ser revalidado em 5 ocasiões, sendo com destino a Taquara (30.03.44), Canela (12.06.44), Porto Alegre (06.01.45), Taquara (09.01.45) e a derradeira, para Porto Alegre (05.04.45).

E). Certidão de Registro de Estrangeiro: Existe outro documento, fornecido pela Delegacia de Polícia de Cahy — Certidão de Registro de Estrangeiro — Livro n.º 1, fls. 47, expedido em 11.5.1939. Esse documento informa que Julio (sic) Menz, naquela data, ainda residia na Feliz, 5º Distrito, e que estava havia 27 anos no Brasil. Que a sua idade era de 50 anos e a da sua esposa Berta (sic), 54 anos. Registra, também, que a chegada no Brasil deu-se em 15 de maio de 1912, pelo vapor Santa Catarina, tendo desembarcado no porto de Rio Grande. Assina o documento o sub-delegado em exercício Athalíbio Berwanger.

F). Carteira de Trabalho: Outro, ainda, é uma Carteira de Trabalho, fornecida no Brasil, em 13.3.1940, quando Julius contava 51 anos de idade, e possuía um estabelecimento comercial (Bar) na rua Benjamin Constant n.º 1.292, em Porto Alegre. Nele consta ter sido vacinado em 1930, examinado em 7.3.1940 e em 12.8.1941.

G). Requerimento: Há, também, um requerimento, datado de 19.09.1940, dirigido ao Sr. Chefe de Serviço de Registro de Estrangeiros, e de n.º 11.250. Nele pode ser observado que Julius, em 23 de janeiro de 1927 retornou para a Alemanha e de lá novamente para o Brasil, onde aportou em Rio Grande na data de 15 de junho de 1927. Esse requerimento era para atender aos requisitos do decreto n.º 3.010 de 20.08.1938; em suma, para controle das pessoas estrangeiras. Nele consta ainda, que Julius era comerciante por conta própria, estabelecido com um Bar na rua Benjamin Constant, n.º 1292, em Porto Alegre, onde também residia. Apenas para constar, o Bar ficava na esquina com a rua São Pedro, Bairro Floresta, em diagonal onde, há pouco tempo, ainda se situava a Ferragem de Moisés Koteck.

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V. CAUSAS DA EMIGRAÇÃO

A tradição oral da história de Julius refere que, entre os motivos que o fizeram emigrar para o Brasil, estaria um incidente relacionado ao hábito furtivo da caça nas florestas da região de Isny, Alemanha.

Por duas ocasiões, Julius teria sido encontrado pelo guarda-caças, vagando pelos caminhos da floresta. E embora conseguisse ocultar rapidamente a arma e não carregasse consigo nenhuma caça incriminadora, evidentemente, não conseguiu convencer a autoridade.

O guarda, amigo do pai de Julius, teria alertado o velho Alois Menz sobre as eventuais conseqüências que o rapaz poderia sofrer.

Com tal argumento, o velho Alois teria aconselhado o filho a emigrar para o Brasil, onde, devido à abundância da caça e à falta de leis de proteção específicas, ainda não haveria restrições.

Quando, mais tarde, já no Brasil, Julius mostrava aos filhos os troféus da caça abatida na Alemanha, usava contar a história acima.

Entretanto, existem fatos que levam a outras conclusões, menos prosaicas. O primeiro é que, em 1905, Michael, o irmão mais velho, viajara ao Brasil, acompanhado de um colega, cuja irmã pretendia desposar.

Esse colega, num incidente não totalmente esclarecido, morreu no Brasil. Diante disto, em 1908, Michael retornou a Alemanha com dupla intenção: dar, pessoalmente, inteira satisfação aos pais do amigo morto, sobre o nefasto sucedido e pedir a mão da irmã do indigitado amigo para, uma vez casado, com ela emigrar definitivamente para o Brasil.

Porém, os pais da moça se recusaram a permitir o casamento, argumentando: " - Já perdemos um filho naquele país e agora tu queres nos levar a filha?"

Desta sorte, em 1909, Michael retornou sozinho ao Brasil.

O segundo fato, é que, por volta dessa mesma época, 09.06.1909, Julius iniciou o curso técnico de Laticínios em Biberberg, curso esse que veio a concluir em Boos, na data de 29.12.1910.

O terceiro fato, ocorrido nos primórdios de 1912, foi o estabelecimento de uma indústria de laticínios na localidade de Teutônia, então município de Estrela-RS, por iniciativa de Michael, que aguardava a chegada do irmão Julius para dar início às atividades.

O quarto fato é que Julius vinha, recém casado, "com uma moça alemã", tal como aconselhado pelo irmão mais velho Michael, que então achava possível a um alemão fixar-se no Brasil somente casado com uma legítima mulher alemã (dada a diferença cultural, nem mesmo poderia ser uma "Deutsch-Brasilianerin" -, i. é, uma Teuto-brasileira). E diga-se, a propósito, Michael perseverou nessa idéia, com certeza até 1920/21, quando fez a última viagem para a Alemanha e tentou, inutilmente, trazer consigo uma esposa alemã.

Por derradeiro, o fato de que, de profissão, Michael era padeiro formado e não técnico em laticínios. E tendo em conta as pesquisas, concluiu que seria antes melhor negócio estabelecer-se no Brasil com indústria de laticínios.

Assim, parece-me óbvio que a vinda de Julius deu-se em função de convite e orientações do irmão mais velho. Creio mesmo que o curso técnico de laticínios foi escolhido com essa finalidade específica.

No decorrer do curto período de 1908/1909, enquanto Michael estava na Alemanha, com grande probabilidade, ambos devem ter combinado tal propósito.

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VI. CASAMENTO COM BERTHA KOLB.

A tradição oral refere que Julius, três anos mais moço, estaria enamorado de Bertha há tempos. A proximidade da viagem ao Brasil só teria apressado o pedido de casamento. Sabe-se que Bertha era uma "Damenschneiderin", literalmente, "alfaiata para senhoras". E naquela época, em Isny, a profissão de alfaiate exigia que o profissional fosse até a casa daqueles que pretendiam renovar o guarda-roupa. E, como não havia "prêt-a-porter", ou, em existindo, era muito caro, via de regra, o trabalho era feito para toda a familia. Desta sorte, o profissional permanecia hospedado na casa do interessado até concluir o trabalho de vestir toda a família.

Bertha, nas relatadas circunstâncias, teria permanecido hospedada na casa dos pais de Julius, que então lhe teria proposto o casamento e a intenção de emigrar para o Brasil.

Deve ter sido uma decisão bastante difícil, só superada em vista de uma série de circunstâncias. Inicialmente, a garantia de que seria uma experiência; se não desse certo, voltariam. De acordo com o relato da filha Josefina (Finchen), o sogro de Bertha teria prometido o amparo financeiro do retorno. Além disto, o fato de Bertha estar em vias de se tornar uma solteirona, situação que causava verdadeira ojeriza às moças casadoiras. O problema de Bertha decorria do falecimento prematuro do pai, o que obrigou a familia a vender o imóvel, visto que não restara mão-de-obra masculina para tocar o pesado empreendimento, essencialmente rural.

Mudando-se com a familia para a cidade, Bertha viu-se obrigada a ajudar no sustento da mãe, fato que acabou prolongando a vida de solteira e, aparentemente, se encaminhava a uma situação irreversível.

Assim, o inesperado pedido de casamento de Julius rompia com a fadada sorte, tornando Bertha mais maleável ao empreendimento.

Finchen, que com a mãe teve um contato mais próximo do que os outros filhos, afirmou que o casamento não foi fruto de uma paixão de Bertha, mas, muito antes, de um arranjo, em tudo conveniente.

Por derradeiro, o espírito de aventura que, usualmente, anima os alemães, expresso numa palavra: "Wandern".

Para os alemães daquele tempo - assim como os de hoje - quem - podendo - não empreende uma aventura desse feitio, "não é boa gente", pois nada tem a contar para a familia e para os amigos.

Casaram-se em 14 de março de 1912 na Skt.

Georgskirche (Igreja de São Jorge) de Isny.

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VII. VIAGEM AO BRASIL.

Em 06.02.1912 Julius apresentou-se ao Bezirksfeldwebel de Leutkirch (Sargento da Circunscrição Mobilizadora de Leutkirch), manifestando a intenção de seguir para a América.

Em abril embarcaram no navio Santa Catharina, da companhia de navegação "Hamburg-Süd", para o Brasil. Já em alto-mar, o Santa Catharina recebeu pelo telégrafo um pedido de socorro de outro navio. Era o dia 14.04.1912, e o pedido provinha do famoso navio inglês Titanic, que veio a afundar em torno das 2 horas da manhã do dia 15 de abril.

A notícia se espalhou, causando uma excitação intensa nos passageiros do Santa Catharina. Os jovens Julius e Bertha, recém casados, jamais esqueceram desse incidente e costumavam relatá-lo aos filhos e amigos.

O navio, inicialmente, teria aportado no porto de Santos, em São Paulo, onde Bertha teria levado um susto enorme ao sair da cabine e avistado, pela primeira vez, um negro retinto de tão preto. E mais tarde, ao aportarem em Rio Grande e visto os gaúchos tomando o indefectível chimarrão, teria pensado se tratar de uma espécie de narguilé, e se admirado muito que o enchessem de água.

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VIII. RUMO A TEUTÔNIA. FIM DE UMA SOCIEDADE EFÊMERA.

Não possuo ainda informações documentais sobre o procedimento adotado para viajar de Rio Grande até Teutônia, então município de Estrella, RS. Todavia, tendo em conta os meios de transporte disponíveis, parece-me correto concordar que tenham ido de barco, pela Lagoa dos Patos, até Porto Alegre e, dali, pelo rio Taquari, seguido de lancha a vapor ou, à gasolina, até o porto de Estrella. O restante do trajeto, até Teutônia, onde os esperava Michael, fizeram em carroças, ou em lombo de cavalos.

Uma vez que instalados, puseram em andamento a fabrica de queijos, mas, algo não deu certo na sociedade dos irmãos Julius e Michael. Os filhos mais velhos de Julius, apoiados em comentários dos pais, referiram tratar-se de dificuldades de relacionamento surgidas a partir de uma posição instransigente adotada por Michael, a quem deve ser creditado o projeto da indústria de laticínios, em contrapartida ao conhecimento técnico de Julius, devidamente habilitado à produção de laticínios.

Os queijos produzidos por Michael, de acordo com os aventados relatos, vez que por ele desprezados certos cuidados técnicos, ficavam instáveis e costumavam rachar, do que resultava uma perda significativa de produtos, afinal descartados no rio, causando considerável prejuízo aos sócios.

Nada obstante, a posição geográfica de Teutônia, em tudo dependente do Porto de Estrella, desaconselhava manter a fábrica naquele local, já que, por ocasião das chuvas, o caminho até o porto costumava transformar-se em lodaçal, resultando em atoleiro para os meios de transporte, e em decorrência, prejuízos para a sociedade dos irmãos.

Destarte, a sociedade acabou por se dissolver. Michael retornou para Fazenda Paquete, onde trabalhava antes do empreendimento em Teutônia e Julius seguiu para para Poço das Antas, onde se estabeleceu por conta própria, com nova fábrica. Para essa mudança, contou com o apoio integral da esposa que andava descontente com o fato de Teutônia não possuir um templo católico.

Além disto, o dialeto alemão "sapato de pau" falado pelos habitantes daquela comunidade, causava dificuldades a Bertha que, diferentemente de Julius, passava o dia em casa, voltada para os trabalhos domésticos. Assim, nas raras ocasiões que saía, tinha poucas oportunidades para desenvolver seus conhecimentos no dialeto estranho.

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IX. POÇO DAS ANTAS E A DECISÃO DE VOLTAR PARA ALEMANHA.

Ainda em Teutônia, no dia 31.12.1912 nasceu a primeira filha do casal, a que deram o nome de Josefina. O registro, porém, teria sido feito no Cartório de Poço das Antas. Confesso que não confirmei documentalmente esse detalhe; as razões desse fato também desconheço.

Entretanto, Bertha engravidou outra vez, desta feita, de Centalina (para a familia continuou sendo Kreszentia, ou, em Português, Crescência). O escrivão teria achado o nome muito esquisito e, por conta própria registrou-a como Centalina. Aí já se percebe o desrespeito com que eram tratados os emigrantes pelas autoridades constituídas. Fosse hoje, o Oficial do Cartório enfrentaria uma parada duríssima, graças aos direitos individuais consagrados pela Constituição de 1988.

Entretanto, Centalina durou apenas 6 meses, vindo a falecer em circunstâncias ainda sem registro. Certo é que, pouco depois o casal Julius/Bertha resolveu regressar para a Alemanha. A hipótese mais plausível é a de que Bertha, em vista da morte da filha, ficou terrivelmente decepcionada com mais esse "fracasso" na nova terra. Enfim, puseram-se a vender tudo o que tinham trazido na viagem e compraram as passagens de retorno.

Corria o ano de 1914. Estavam prestes a iniciar o retorno - quiçá até estivessem a caminho do Porto de Rio Grande, - quando foram surpreendidos pela notícia do início das hostilidades decorrentes da I Guerra Mundial. O retorno já não era possível. Julius, cumprindo a sua obrigação militar, apresentou-se no escritório do Consulado alemão em Porto Alegre quando foi aconselhado a permanecer com a familia no Brasil. O perigo do navio ser afundado em alto mar ou ter que retornar em vista do bloqueio dos aliados, era enorme.

Portanto, a familia teve que encarar uma dura realidade. Perderam o dinheiro das passagens e nem mesmo tinham o mobiliário da casa, indispensável para uma residência decente, ou o ferramental para o exercício da profissão. Seria interessante conhecer como Julius enfrentou essa penúria. Deve ter se valido de conhecidos que lhe concederam empréstimos para o reinício das suas atividades.

Resultou daí que a familia acabou fixando residência numa nova localidade: Santa Clara, no município de Estrella.

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X. SANTA CLARA, então MUNICÍPIO DE ESTRELLA..

Dois fatos merecem destaque durante o tempo que Julius e família permaneceram na localidade de Santa Clara. O primeiro foi o nascimento do filho Aloysio Menz em 13 de julho de 1915. O segundo, foi o encontro com um cidadão de sobrenome Scherer, oriundo de Santa Therezinha, então município de Montenegro (hoje área distrital de Bom Princípio, RS). Dito cidadão, pretendendo começar uma indústria em sua região e tendo ouvido falar de um alemão, fabricante de laticínios e técnico-veterinário, residente em Santa Clara, para lá se dirigiu e com Julius travou entendimentos negociais, que afinal resultaram numa sociedade, cujos termos desconheço.

Fato é que Julius mudou-se com a família para Santa Therezinha onde deu início a uma atividade industrial que se estendeu até 1919, talvez até 1920. O cidadão de sobrenome Scherer, é preciso que se registre, tratava-se do pai daquele que viria a se tornar o Cardeal Dom Vicente Scherer, muito conhecido nos anos em que permaneceu à frente da Igreja Católica no Rio Grande do Sul, especialmente através de um programa de rádio e das obras de conclusão da Catedral Metropolitana em Porto Alegre.

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XI. SANTA THEREZINHA, MONTENEGRO, RS (hoje área Distrital de Bom Princípio, RS).

.Durante o tempo em que lá permaneceu, nasceram dois filhos: Pedro Nolasco Júlio Menz (ou Pedro Júlio Nolasco Menz), nascido em 23.02.1917 e Egon Menz (meu pai), nascido em 23.07.1918. As razões para o fim da sociedade na empresa de laticínios e a posterior mudança para São José do Hortêncio, RS, foram contadas pela filha mais velha, Josefina.

Disse Josefina que Julius era muito confiante nos negócios, não raro deixando somas consideráveis de dinheiro no móvel da cristaleira. Resultou que um dia o dinheiro desapareceu, sem explicações para o sumiço. Julius não tinha, na ocasião, como cobrir o valor faltante. Destarte, e à vista de seus deveres para com os sócios, obrigou-se a negociar para o futuro a obrigação de inteirar o valor faltante, o que cumpriu no prazo avençado.

Deve-se ter em conta que naquela época não havia casas bancárias no local. A cidade mais próxima a oferecer tais serviços era São Sebastião do Caí, o que obrigava a deslocamentos demorados, que tomavam o dia inteiro. Em 1974, quando aportei em São Sebastião do Caí, ainda não havia casa bancária em Santa Therezinha, nem mesmo em Bom Princípio. Então, guardar o dinheiro na cristaleira, debaixo do colchão ou em outros lugares impróprios para quem não possuía um cofre, era procedimento normal.

Todavia, o incidente provocou grandes aborrecimentos e constrangimentos, de sorte que Julius resolveu mudar-se para São José do Hortêncio, atraído pela oferta de uma propriedade à venda.

Anos mais tarde, quando então o irmão de Dom Vicente Scherer, Alfons Scherer, também Padre, tornou-se pároco da Paróquia de São José do Hortêncio, um belo dia resolveu visitar a família Menz. Trouxe consigo um pacote que depositou sobre a mesa. Conversando com os membros da família, o Padre afirmou que o pacote continha dinheiro e se tratava da devolução da importância que anos antes alguém furtara na casa de Julius. Enfatizou que o autor do furto não poderia ser revelado, visto que a devolução do dinheiro se dera em confissão de arrependimento.

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XII. SÃO JOSÉ DO HORTÊNCIO, RS (então área distrital de São Sebastião do Caí, RS).

a) 1919 a 1926.

Por volta de 1919/1920, Julius adquiriu de Jacob Schmitt uma propriedade em São José do Hortêncio, que continha antigo moinho; o prédio principal foi casa de negócios e, provavelmente, o salão de baile da região. Situava-se na Linha Hortêncio (Portugieser Schneis – Picada dos Portugueses), hoje Av. Mathias Steffens e para alcança-lo, segue-se pela estrada geral Caí-Hortêncio até a Av. Mathias Steffens, prosseguindo à direita em direção à ponte de ferro do Campestre, 2º distrito. Em torno de pouco mais, ou menos, de 1 Km, no lado esquerdo, situava-se a dita propriedade, mais tarde vendida à Família Hartmann que a demoliu.

A tradição oral refere que o imóvel teria 80 hectares de superfície e teria pertencido ao cidadão que deu origem ao nome da cidade – Hortêncio – e que, em meados do século XIX - o moinho era usado para a extração do óleo vegetal para abastecer os lampiões da iluminação Pública de Porto Alegre; também refere que Julius adquirira a propriedade de Jacob Schmitt e que o imóvel, anteriormente, teria pertencido à Família Trein, bastante conhecida na região. Tratava-se de uma área de terras situada frente à Av. Mathias Steffens até fundos o Arroio Cadeia; a casa principal, de alvenaria, tinha duas edificações, uma delas datada de 1836 e o outra de 1846.

Instalado naquele local, Julius passou a produzir queijos que, empacotados, despachava até o Porto de São Sebastião do Caí, onde ficavam armazenados em algum dos armazéns situados à beira do rio Caí, aguardando a chegada das “gasolinas”, pequenas embarcações fluviais que faziam o transporte entre Caí e Porto Alegre. A mercadoria era descarregada no cais da capital e entregue em duas bancas do Mercado Público, que as vendiam para os Porto-alegrenses.

Em São José do Hortêncio nasceram 3 filhos: em 14.10.1920 as gêmeas Maria Ilga e Maria Irma Menz. Maria Irma faleceu em 25.02.1921 e até há poucos anos ainda era possível avistar o túmulo dela no cemitério católico, situado ao lado da Igreja. Em 23.12.1925 nasceu Kurt Werner Menz.

Considerando que em São José do Hortêncio não havia hotel e o tamanho da casa o permitia, Julius passou a receber hóspedes em passagem de negócios ou outras atividades na localidade. Disto Josefina registrou um fato interessante. Havia em S. J. do Hortêncio um médico, Padre Nagler, da ordem dos Jesuítas. Sua fama de bom médico se espalhou e as pessoas vinham de lugares remotos para tratar a cura de seus males. Muitas dessas pessoas hospedavam-se na residência de Julius enquanto durava o tratamento.

Certo dia, vindo em grupo com três automóveis, aportou por lá um certo General Paim oriundo de Vacaria, que com seus acompanhantes, hospedou-se na residência da Família Menz. Diariamente o grupo ia até o Padre que atendia os doentes na casa paroquial, próxima do colégio onde estudava a filha mais velha. Por causa disto, e a grande distância a percorrer a pé, Josefina passou a pegar carona com esse pessoal, que se deslocava de automóvel.

Padre Nagler, diante disto, foi até a casa dos Menz e teve uma conversa reservada com o casal Julius e Berta. Rogou-lhes que não permitissem à menina acompanhar essa gente e que todos os filhos do casal deles se mantivessem afastados, pois temia pela saúde das crianças. Segundo ele, toda a comitiva estaria tomada pela sífilis. Depois disto, o Bispo teria proibido o Padre Nagler de atender quaisquer doentes. Possivelmente a intervenção do Padre chegou ao conhecimento dos enfermos, que foram se queixar à autoridade eclesiástica.

Josefina, lembrando que o seu aniversário coincidia com o dia 31 de dezembro, comentou que jamais teve uma festa de aniversário só dela; os festejos de ano novo acabavam absorvendo seu natalício. Por isto, recordou um antigo costume nos festejos de São José do Hortêncio. Na véspera do ano novo, um grupo de homens e rapazes, todos armados, compareciam nas residências, pediam licença aos moradores e se apresentavam declamando o seguinte, em dialeto alemão:

G’moie, un’ Noi’joa (Guten Morgen und Neujahr - Bom-dia e Ano Novo); Sack voll Soihoa (Sack voll Sauharen - Saco cheio de cabelos de porca); Wia winsche oich’ne froas Joa (Wir wünschen Euch ein Frohes Jahr - Desejamos-lhes um Feliz Ano Novo); Viel Glick un’lang’s Leba (Viel Glück und langes Leben - muita sorte e longa vida); Das soll ooch libes Gott oich Geba (Das soll auch der Lieber Gott Euch geben - Isto também lhes deve dar o bom Deus); Oire Tochta ‘en Man (Eure Tochter ein Man - à sua filha um marido); Das’t all’s was wia oich winsche kan (Das ist alles was wir Euch wünschen kennen - isto é tudo que podemos lhes desejar); Un’ wen’s net g’sched (Und wenn es ist nicht gescheit - e se isto for tido como bobagem); Dan schloon wia oich die Fensta een (Dan schlagen wir Euch die Fenstern ein - então lhes quebraremos as vidraças); Ia Brida, spannt die Hahna uf (Ihr Brüder spannt die Hahnen auf - Irmãos armai os gatilhos); Ia Brida macht das foia geb (Ihr Brüder, macht das es Fuer gibt - Irmãos façam fogo!).E todos disparavam as armas para depois participarem de um alegre ágape com os donos da casa.

Salientou Josefina que, no momento em que afirmavam desejar um marido à filha do proprietário, todos os olhos se voltavam para ela. E essa era a única homenagem que ela recebia pela passagem de seu aniversário.

Por volta de 1925, Julius vendeu a propriedade para Felipe Albino Hartmann; começara a construção de uma casa em terras recém adquiridas, próximas ao entroncamento entre a estrada geral Caí-Hortêncio e a atual Av. Mathias Steffens. Enquanto construíam a casa, Julius mudou-se com a família para um galpão, que com a anuência do novo proprietário, mandara construir no fundo do imóvel vendido. Em 1926, terminada a obra da casa nova, a família mudou-se.

Ainda em 1921 a família ficou muito feliz com a chegada, em São José do Hortêncio, vindo da Alemanha, do irmão mais novo de Julius. Chamado Josef Menz, veio ao Brasil acompanhando um grupo de alemães desmobilizados do exército alemão em 1918 ao fim da guerra. Não era este o caso de Josef, que estivera muito próximo de ser mobilizado mas se escapara em razão do fim do conflito. Todo o grupo acompanhou Michael Menz, o irmão mais velho e primeiro dos três imigrantes da família, que saíra do Brasil em 1920, especialmente para buscar esse pessoal vivendo na penúria de uma Alemanha destroçada.

Josef, nascido em 1.10.1900, era muito jovem e ainda não tinha profissão. Diante disto passou a hospedar-se com Julius a fim de aprender a arte da produção de laticínios e aperfeiçoar-se na veterinária. Enquanto aprendia, bem relacionava-se com os sobrinhos que gostavam muito do tio.

b) 1926 a 1936.

A Família de Julius mantinha boas relações com a Família Hartmann; houve até o compadrio, embora não possa, por ora, precisar quem foi padrinho de quem e se o apadrinhamento era de batismo ou de crisma. Certo é que pais e filhos eram amigos e esta deve ter sido a razão pela qual os Hartmann adquiriram as terras de Julius e Berta.

Julius, já então residindo na nova casa, recebeu de seus irmãos na Alemanha um conjunto completo de figuras e enfeites de Natal. Entre estes vieram suportes de metal com velas de cera de abelha para a iluminação da árvore. Junto, uma réplica de cocho de animais com a figura de um menino Jesus de cera; o cocho, junto com a figura, teria sido encontrado no bolso de Alois Menz, irmão de Julius, tombado em combate contra a França no ano de 1916. Esses apetrechos eram anualmente usados para a figuração do presépio e enfeites da árvore de natal da família.

A família festejou o Natal na nova residência e depois, acomodados os filhos para dormir, Julius e Berta foram visitar seus compadres, mas talvez por esquecimento, ou não se dando conta do perigo, deixaram acesas as velas da árvore. E de repente tomaram enorme susto quando, de longe, avistaram o fogo que já tomava conta da sala da casa. Rapidamente retornaram da visita e com a ajuda da vizinhança, conseguiram debelar o fogo que poderia ter lhes custado a nova casa e, quiçá, um sinistro maior, a vida dos filhos.

Na medida em que entravam na idade escolar as crianças aprendiam na escola elementar da localidade, mantida pela comunidade católica e administrada pelas freiras. Todavia, quando terminado esse estágio, tiveram que ser conduzidas a outros colégios. Josefina passou a estudar na localidade de Dois Irmãos. Aloysio, Pedro Nolasco e Egon foram estudar em São Leopoldo, no seminário dos Padres Jesuítas; Maria Ilga estudou no Colégio Bom Conselho, em Porto Alegre e finalmente Kurt estudou no Colégio Anchieta, então situado na rua Duque de Caxias, também em Porto Alegre.

Em 1927, Julius empreendeu uma viagem à Alemanha. Seguiu sozinho, provavelmente devido ao custo elevado. Berta e as crianças ficaram em casa, no Brasil, fato que provocou intensos falatórios da vizinhança. Muitos pensavam que Julius abandonara a família; que jamais regressaria. Na viajem seguiram, ademais de diversos conhecidos, Wolfram Metzler, que se tornou influente político gaúcho. Foi nessa ocasião que Julius teve a última oportunidade de ver sua mãe Josefa (Hofer) Menz. Pouco depois do regresso de Julius ao Brasil, Josefa faleceu aos 72 anos de idade.

Julius e Berta estavam cada vez mais envolvidos na comunidade de São José. Ele, em razão desse envolvimento, começou a se interessar pela política, embora fosse estrangeiro. Todavia, seu interesse era sem participação efetiva, mas através de apoio a candidatos com propaganda, quiçá colaborando no financiamento de pequenas despesas. Para entender o que ocorreu nessas circunstâncias é preciso conhecer um pouco a situação política daquela época.

No plano do Estado do Rio Grande do Sul, a política era dominada por Borges de Medeiros, seus partidários e apoiadores. Em São José do Hortêncio, área distrital de São Sebastião do Caí, dominava a família Fortes que, por sua vez, apoiava Borges de Medeiros. Ademais disto, embora houvesse eleições livres, a realidade demonstrava o contrário, pois praticava-se o “voto a cabresto”, a fraude nas eleições e a corrupção na vida pública.

As eleições em São José do Hortêncio, segundo o depoimento de antigos moradores, eram feitas mediante grande disputa por eleitores. Mas, aqueles que eram a favor dos Fortes e de Borges de Medeiros, costumavam valer-se do Poder para obrigar os colonos a votarem nos seus candidatos.

O voto era uma folha de papel impressa com o nome do candidato, o cargo que disputava e o partido a que pertencia. As folhas eram distribuídas aos eleitores em todos os recantos da localidade e quem quisesse poderia levar a do candidato de sua preferência até o local da urna e votar, depositando-a no malote de votação. Também havia indivíduos, de todos os partidos, que se postavam na entrada da cabine e entregavam o papel de votação. O sistema facilmente se prestava a fraudes, pois não evitava que alguém depositasse mais de um voto na urna.

Pela manhã do dia da votação, enquanto os cidadãos se dirigiam para o local, já estavam nas ruas os fiscais dos partidos, sendo que os dos Fortes e de Borges de Medeiros, andavam ostensivamente armados e detendo transeuntes, as vezes os revistando, para saberem de qual candidato era a intenção de voto. Constatando que o eleitor preferia a oposição, tomavam-lhe as papeletas e lhe entregavam outras dizendo que o voto deveria ser direcionado ao candidato deles.

Mas, a oposição também encontrava meios para fraudar, seja deixando os papeis de votação dos seus próprios candidatos em locais estratégicos dentro do quarto ou sala de votação (hoje, uma cabine), seja alcançando-os por frestas nas paredes, por janelas, etc. E assim, acabavam na urna mais votos do que eleitores. Como resolviam esse disparate não consegui saber.

Os Menz, segundo Kurt Werner, eventualmente, recebiam a visita da família Fortes em sua residência, talvez em busca de apoio político, ou, simplesmente para adquirir queijos. Kurt lembrou que provavam os queijos produzidos por Julius. Mas, politicamente, a família se afinava com Egydio Michaelsen, adversário dos Fortes.

Possivelmente esta preferência estivesse assentada na sua descendência de alemães e porque falava alemão. Pesava também que o titular do Cartório de Registros Públicos da localidade, Raphael Steffens –  a quem Julius considerava amigo - era casado com uma irmã de Egydio Michaelsen. E finalmente, havia outro amigo de Julius, Carlos Oderich, fundador da Conservas Oderich, casado com Alzira, também irmã de Egydio.  Penso, pois, que era natural a preferência política dos Menz por Egydio Michaelsen.

Entretanto, esse envolvimento de Julius custou-lhe dissabores que teria evitado se tivesse permanecido neutro. Mas, a questão é: ter-lhe-ia sido possível ficar neutro? Afinal, ele vivia numa comunidade e viver numa comunidade é um ato político que importa em amizades, posicionamentos, preferências, relacionamentos e uma vida econômico-financeira, que as vezes pesa mais do que tudo. Definida a sua posição política em prol de Egydio Michaelsen, começaram as demonstrações de afetos e desafetos.

No início de 1935, a filha Josefina namorava um rapaz de São Leopoldo, de nome José Aloysio (Luis) Schroeder, filho do proprietário de um Hotel em São Leopoldo. Ao que consta, dito rapaz estaria envolvido com um partido político chefiado por Plinio Salgado, cujos seguidores eram chamados de “camisas verdes”, e pregavam a ideologia do integralismo. O símbolo do partido era a letra grega Sigma. O movimento criou força e em São Sebastião do Caí, no dia 25.02.1935, realizou um encontro com parada e discursos na Praça da Matriz, comparecendo pessoas de diversas localidades, especialmente oriundas dos municípios de imigração italiana e alemã. O encontro resultou em tragédia, pois eram aguardados pelos guardas de Athos Fortes que deram início a um tiroteio, no qual morreram três pessoas, entre eles Aloysio Schroeder, com um tiro no ouvido; dez ficaram feridos.

Esse episódio, que trouxe grande repercussão e agitação à cidade, necessitou da intervenção do 8º Batalhão de Caçadores de São Leopoldo para o reestabelecimento da ordem. Para Julius, porém, foi a gota dágua em relação a Athos de Moraes Fortes e seu bando.

Diante disto, já em 1936, um guarda municipal de nome Belarmino (provavelmente Belarmino Lucas, ferido no episódio de 1935 contra os militantes do Sigma) a serviço do Prefeito Municipal Athos de Moraes Fortes, passou a patrulhar provocativamente a residência da família Menz. Era tão ostensivamente agressiva a provocação que Julius, tomando uma arma Winchester e fazendo de conta que a limpava, passou a engatilhá-la e desengatilhá-la, produzindo o ruído característico daquela arma. Tomado de medo, Belarmino correu, sob as risadas de Julius.

Mas, a resposta não se fez esperar; algumas horas depois, talvez no dia seguinte, compareceram na residência o subdelegado Bubi Cornelius, acompanhado de outros indivíduos, todos da Polícia Municipal Caiense, com ordem para prender o alemão. Levaram-no preso até o Caí, azucrinando-o por todo o caminho, em torno de 20 Km. Encarceraram-no e foram embora. A Delegacia permaneceu vazia; só ficaram os presos. Foi então que Julius percebeu que a porta da sua cela estava só encostada. Intrigado, comunicou o fato aos outros presos, dizendo que poderiam fugir. Mas, os detentos lhe advertiram que não fosse bobo, pois era exatamente isto que queriam, um motivo para persegui-lo e mata-lo. Pelo sim, pelo não, Julius passou a noite na cadeia e no dia seguinte foi solto por Egydio Michaelsen, que, além de político, era advogado.

As divergências políticas acabaram por colocar Julius em grande perigo de vida. Osvino Müller contou-me que, em certa ocasião estava num armazém, ou boteco de beira de estrada; o carro deixara na rua, defronte o armazém. Nisto viu Julius entrando para negociar com o proprietário. Foi quando Osvino percebeu a movimentação imediata de um pequeno grupo de correligionários de Fortes, que passou a hostilizar Julius, com visível intenção de agredi-lo. Rapidamente Osvino tomou Julius pelo braço a o arrastou para a rua e ambos, entrando no automóvel, saíram em disparada baixo imprecações do grupo de agressores. A expressão literal que Osvino usou para descrever o episódio foi: - Eu salvei a vida do teu avô!

Em correspondência datada de 03.09.1948, Egon Menz contou para sua irmã Maria Ilga, então morando em Buenos Aires, outro episódio decorrente do envolvimento de Julius na política local: Am Dienstag vor 8 Tagen fuhren wier mit Herrn Vier, per auto, nach Novo Hamburgo; wahren auch in Porto Alegre, Campo Bom, Bom Jardim, welche heute Ivoti heist; bei den Kernsbuben in Neu-Deutschland waren wir auch. Die haben mir mal erzaehlt wie sie Papa im Jahre 1936 bei ihnen versteckt hier damals, wie die Wahlen in Caí waren: Egídio x Fortes. Vierzehn Tage lang blieb damals Papa bei ihnen, weil Belarmin und seinen Capangas ihm am 14-Kolonier abwarteten. Kerns erzaehlten mir von Reden welche Papa dort abhielt: “Saebelgerassel und Peitscheknallen wird uns nicht mehr enschuechtern!” habe er gesagt. Der gute Papa hat sich in Politik hieneingemischt, welche in garnicht anging, weil er ja doch garnicht Brasilianer war, aber er konnte sich nicht dieser Politik trennen, trotz Aerger, Verfolgung und Gefaengniss. Mit Kernbuben war Papa gut befreundet. Sind sehr aufrichtige Leute.

Tradução: Na terça-feira, há 8 dias, viajamos de automóvel com o Sr. Vier, para Novo Hamburgo; estivemos também em Porto Alegre, Campo Bom e Bom Jardim, que hoje se chama Ivoti; na rapaziada dos Kern em Nova Alemanha, estivemos também. Estes me contaram, certa feita, como em 1936 tinham escondido nosso pai com eles, quando das eleições Egydio versus Fortes no Caí. Durante quatorze dias nosso pai permaneceu homiziado junto deles enquanto Belarmino e seus capangas o aguardavam em 14 Colônias. Os Kerns contaram que quem o esperava lhes teria afirmado: - Tinir de espadas e estalar de chicotes não mais nos intimidarão! Nosso bom pai se meteu na política, que nem mesmo lhe dizia respeito, já que nem brasileiro era, mas dela não podia se afastar, apesar dos incômodos, da perseguição e da prisão. Com os Kern nosso pai era bem-vindo. São pessoas escorreitas.

 
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Julius Menz's Timeline

1888
December 2, 1888
Gosbolz-Weitnau, Kempten, Bayern, Germany
1912
December 31, 1912
Rio Grande do Sul, Brazil
1914
January 3, 1914
Poço das Antas, Rio Grande do Sul, Brazil
1915
July 13, 1915
Santa Clara do Sul, Rio Grande do Sul, Brazil