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About Frei Gaspar da Madre de Deus
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Nasceu Gaspar Teixeira de Azevedo, depois Frei Gaspar da Madre de Deus, na fazenda de Sant’Ana, na Capitania de São Vicente, aos 9 de Fevereiro de 1715.
Era filho do Coronel Domingos Teixeira de Azevedo e D. Ana Siqueira de Mendonça, agricultores de cana de assucar e arroz, naquela parte do litoral paulista.
Iniciou Frei Gaspar os seus primeiros estudos na fazenda paterna, passando depois para a vila de Santos, onde permaneceu até 1731.
Como sempre acontecia no seculo XVIII, a sua lucida inteligencia foi logo aproveitada para a carreira eclesiastica, tendo ingressado na ordem beneditina na cidade da Baia, levado pelo abade provincial do Brasil, Frei Antonio da Trindade.
A 15 de Agosto de 1732, segundo Pedro Taques, fazia Frei Gaspar a sua profissão de fé, na Abadia de São Bento, na Baía. Alguns anos depois passou-se para o convento do Rio de Janeiro, onde em 1740, se habilitou para o exercício do magistério’.
Afonso Taunay refere-se a uma viagem feita por Frei Gaspar á Europa, depois dessa época, louvado numa constatação encontrada no prefacio do seu Curso de Filosofia, cujos manuscritos foram encontrados em 1919, na Abadia de São Paulo. Regressando de Portugal, “fez tão grandes progressos nos estudos de Filosofia e Teologia, escreve Pedro Taques, que se constituiu digno para lhe darem a cadeira de mestre no mosteiro da cidade do Rio de Janeiro”.
Em Dezembro de 1752, é Frei Gaspar eleito pelo capitulo geral da Ordem, no mosteiro primaz de Tibães, abade de São Paulo; recusa contudo receber a alta dignidade, sob pretexto de não desejar interromper os seus cursos de filosofia e teologia, aos quais se dedicara com tão amoroso cuidado.
Por esse tempo, começou os seus estudos históricos, aguçado por pesquizas que empreendera em Santos, a mandado do provincial da Ordem.
Em 1762, tendo sido eleito Frei Antonio de São Bernardo para o lugar de abade do Rio de Janeiro, declinou da honra, em favor de Frei Gaspar da Madre de Deus, que então aceitou o encargo.
Já eram notaveis, nesse tempo, as suas qualidades de orador sacro, pois são citados, os sermões que prégou por ocasião do casamento de D. Maria I e do nascimento do principe da Beira.
No cargo de abade no Rio de Janeiro, entre os anos de 1763 a 1766, prestou Frei Gaspar relevantes serviços á ordem beneditina, tendo conseguido á custa de penosos trabalhos, salvar o riquissimo patrimonio que se achava envolvido em complexas demandas. Fez, ainda, grandes melhoramentos materiais no edíficio do Mosteiro, introduziu uteis modificações no ritual, reorganisou a biblioteca e o arquivo do convento, enriquecendo-os com a magnifica livraria do abade Pena e com preciosos codices e manuscritos. Para tudo tinha Frei Gaspar tempo, carinho e dedicação, acentuando-se, todavia, os seus maiores cuidados com tudo aquilo que se prendia ao Passado.
Em 1765, o Capitulo Geral em Tibães, reconhecendo os serviços prestados a Ordem pelo beneditino paulista, eleva-o á dignidade de Provincial no Brasil, cargo de que tomou posse em 1766 e exerceu até 1769 .
Tendo sido reeleito para o trienio de 1769 a 72, recusou Frei Gaspar o encargo, preferindo retirar-se para o convento de Santos, encerrando, assim, a sua carreira de administração monastica, para se dedicar com tranquilidade, aos estudos de sua predilecção.
Durante a sua permanencia no mosteiro de Santos, entregou-se Frei Gaspar inteiramente ás investigações historicas, gastando o dia “em visitar os arquivos, a coordenar a enorme mésse de documentos trazidos do Rio de Janeiro e da Baía, a traduzilos e comenta-los”, escreve o Sr. Afonso de Taunay. (1)
(1) A Taunay – Memorias para Historia da Capitania de São Vícente – 3º edíção – São Paulo – 1920 – pg. 52.
Por esse tempo, pesquizou os arquivos e cartorios de São Sebastião, ltanhaen, Iguape, Cananeia e São Paulo, na incansavel colheita de achêgas para as suas obras historicas.
Conta Taunay que data dessas viagens a São Paulo, a intima amizade que ligou Frei Gaspar ao seu primo Pedro Taques: Foi durante o infortunio do grande linhagista a sua consolação diaria e o incentivo para a continuação da sua obra grandiosa.
Depois da morte do genealogista em 1777, procurou sempre Frei Gaspar, pôr em destaque os conhecimentos e a probidade do autor da Nobiliarquia.
” E a este culto á memoria de Pedro Taques, escreve o Sr. Afonso de Taunay, se deve em grande parte, certamente, a conservação do que resta da Nobiliarquia Paulistana e das demais obras do cronista das bandeiras”.
De 1780 a 1795, trabalhou Frei Gaspar activamente na composição de sua obra historica. Assim, em Julho de 1784 concluía a sua Noticia dos anos em que se descobriu o Brasil, cuja referencia ao testamento de João Ramalho, provocou a irritante campanha aberta pelo pretencioso Candido Mendes; em 1793 já tinha concluido os tres livros das Memorias para a Historia da Capitania de São Vicente e os seus escritos sobre as minas de São Paulo e a expulsão dos jesuitas do colegio de Piratininga.
Nada, contudo, havia publicado o frade paulista e já tinha completado oitenta anos. Posto lhe não faltassem recursos pecuniarios para a impressão de toda a sua obra, não resolvia Frei Gaspar da-la á publicidade. Foi quando Diogo de Toledo Lara e Ordonhes, ouvidor em Cuiabá, tomou a iniciativa de fazer imprimir as obras do monge beneditino. Com dificuldade conseguiu Diogo Ordonhes os dois primeiros livros das Memorias, que deveriam ser publicados com o titulo de Fundação da Capitania de São Vicente e acções de Martim Afonso de Souza.
Em sessão de 5 de Abril de 1797, a Academia Real de Lisbôa, resolvia que “as Memorias para a Historio da Capitania de São Vicente, que lhe foram oferecidos por seu autor Fr. Gaspar da Madre de Deus, e foram julgadas dignas de se publicar, sejam impressas á custa da Academia, e debaixo do seu privilegio”. (1)
(1) Frei Gaspar da Madre de Deus – Memorias para a Hístoría da Canitanilt de São Vicente – Lísbõa – 1797,
Em 1798 chegaram ao mosteiro de Santos os primeiros volumes das Memorias cuja terceira parte se perdeu ou teria sido aproveitada, por quem dela, indebitamente se apropriou.
Ocupou ainda Frei Gaspar o cargo de cronista-mór da Ordem, no periodo de 1774 a 1800, lugar que só deixou nos ultimos dias de sua vida, quando a velhice já o tornava incapaz de trabalho proveitoso.
Contava 85 anos de idade, incompletos, o ilustre historiador vicentino, quando aos 28 de Janeiro de 1800, o ceifou a Morte, em sua modesta cela do Mosteiro de São Bento, em Santos, senex et plenus dierum; consoante a frase biblica, com tanta propriedade empregada por Afonso Taunay, na magistral biografia de Frei Gaspar, com que precede a 3ª edição das Memorias Historicas da Capitania de São Vicente.
Com excepção das Memorias, todas as demais obras de Frei Gaspar, foram publicadas na Revista Primensal do Instituto Historico Brasileiro e na Revista do Instituto Historico de São Paulo. E’ a seguinte a relação das obras do ilustre monge vicentino:
Memorias para a Historia da Capitania de São Vicente, hoje chamada de São Paulo, do Estado do Brasil, publicadas por ordem da Academia Real de Ciencias – Lisbôa – 1797 – Na tipo da Academia – in – 4.° de 242 pgs.
Ha uma edição de 1839, publicada por F. A. Varnhagen, em Lisbôa, e uma 3ª edição de 1920, publicada por A. E. Taunay.
Noticia dos anos em que se descobriu o Brasil – Na Revista Trimensal do Instituto Historico – Tomo II – pgs. 427 a 446. Acha-se também incluida na 3ª edição das Memorias.
Relação dos capitães locotenenies da Capitania de São Vicente – in – Revista do Instituto Histórico de São Paulo Tomo V in 8° de 17 pgs.
Notas avulsas sobre a Historia de São Paulo – in – Revista do Instituto Historico de São Paulo – Tomo V – in 8.° de 16 pgs.
Dissertação e explicação sobre terras de contendas entre o Mosteiro de São Paulo e o Convento do Carmo em Santos – in Revista do Instituto Histórico de São Paulo – Tomo XVI in-8ª de 29 pgs.
Oração Fúnebre nas exequias que, pelo Sereníssimo Sr. D. José Primeiro, Rey Fidelissimo de Portugal, mandou celebrar a Camara da Vila do Porto de Santos aos 14 de Julho de 1777 – in – Revista do Instituto Histórico de São Paulo – Tomo XX – in-8ª de 15 pgs.
Catalogo dos Capitães-móres, Generais e Vice-Reis que governaram a Capitania do Rio de Janeiro – in – Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo – Tomo XLIV.
O Sr. Afonso Taunay refere-se á existencia de dois volumes manuscritos, encontrados no arquivo do Mosteiro de São Bento em São Paulo, onde estão reunidas as Lições de Filosofia, professadas por Frei Gaspar no Rio de Janeiro, em 1748. Esta obra é inedita.
As Memorias para a Historia da Capitania de São Vicente, unico livro publicado por Frei Gaspar, é a sua obra capital. A primeira edição de 1797, contém dois livros: Fundação da Capitania de São Vicente e Fundação da Capitania de Santo Amaro. A publicação feita pelo brigadeiro Rafael Tobias de Barros Aguiar, na Revista Trimensal do Instituto Historico (Tomo XXIV – 1861), como sendo a continuação da obra de Frei Gaspar, não era mais que uma adulteração da Historia da Capitania de São Vicente, de Pedro Taques.
Nunca mais foi encontrada a terceira parte das Memorias, e, Silvio Romero enganou-se, quando louvado no Catalogo da Exposição de Historia do Brasil, afirmou a existencia de um manuscrito na Biblioteca Nacional, que “é a genuina continuação das Memorias”, segundo as suas proprias expressões. (1)
(1) Silvio Romero – Op. cit. – T. I – pg. 383.
O Sr. Afonso Taunay provou exuberantemente estarem perdidos o terceiro livro das Memorias, o Extracto Genealogico e numerosos sermões de Frei Gaspar. A autoridade do ilustre monge como historiador é indiscutível e a sua probidade, inatacavel. Saint Hilaire, Varnhagen, Silvio Romero, Taunay e quantos outros, reconhecem-no como um dos mais honestos historiadores brasileiros, e bem alto louvam os trabalhos do escritor vicentino.
Entretanto, tempos houve, em que um iconoclasta ilustre, porém pretencioso e desabrido, entendeu fazer deduções de factos historicos, utilizando-se de dois meios, ambos desleais e pouco dignos: o prestigio de seu nome e o abuso de suas faculdades dialecticas.
Este homem, impado de orgulho e desmedida pretensão de saber, atirou-se de alfange em punho, num furôr iconoclasta, contra o modesto monge, acusando-o injustamente de haver falsificado documentos, e sobretudo, aqueles que se referiam ao testamento de João Ramalho, passado em São Paulo, em 1580.
O senador Candido Mendes, homem de profundo saber e vasta cultura, foi o autor desta insolita campanha.
“Acumulando as deduções habilmente encadeadas, escreve o Sr. Afonso de Taunay, demonstrou o senador maranhense que Ramalho “uma e unica pessoa com o bacharel de Cananéa” não podia ter vivido além de 1 560″. Entretanto, documentos publicados posteriormente por Azevedo Marques e Washington Luis, vieram dar razão ao monge beneditino e deitar por terra a obra insidiosa de Candido Mendes.
Não satisfeito com a primeira investida, volta o sôfrego senador, a qualificar de invencionices, os estudos de Frei Gaspar ácerca de Amador Bueno. Acompanhou-o, desta vez, o impagavel Dr. Moreira de Azevedo, que na Revista Trimensal (Tomo L – 1887), atacou não sómente as investigações de Frei Gaspar, como generalisou as suas deduções até Pedro Taques, pretendendo ser o demolidor da “lenda” de Amador Bueno.
O Sr. Afonso Taunay nas Notas á Biografia do Autor, na 3ª edição das Memorias, liquida definitivamente esta questão, demonstrando á vista de documentos, o erro ou má fé dos acusadores de Frei Gaspar, que, propositadamente ou não, tornaram-se réus do crime que imputavam ao preclaro historiador vicentino.
As falsas acusações de Candido Mendes e Moreira de Azevedo, serviram para que se evidenciasse quão grande foi o respeito pelo cronista consagrado á exatidão dos documentos transcritos para o alicerçamento das suas afirmações leais, escreve o Sr. Taunay”. (1)
(1) A. Taunay – Memorias para a Historia da Capitania de São Vicente – 3ª edição – São Paulo – 1920 – pg. 82.
Varnhagen, em 1840, enaltecia a exatidão das investigações de Frei Gaspar e as Memorias são tão ricas em citações de fontes, que, facil se torna, o confronto dos documentos, das citações, e das transcrições feitas pelo historiador beneditino.
As Memorias, escritas em estilo setecentista, não têm elevações de forma, nem coloridos vivos de linguagem. Guarda sempre o estilo narrativo e singelo das crônicas monasticas, sem os amaneirados e as pompas gongóricas de Rocha Pita, ou a elocução um tanto desataviada, contudo natural, de Pedro Taques. E’ um livro sereno, ponderado, e, raras vezes, como nos episodios de Charlevoix e Rui de Moschera, ou na enumeração dos erros de Rocha Pita, o autor perde a calma habitual, para se elevar com mais veemencia e severidade.
Como seu primo Pedro Taques, tinha Frei Gaspar a preocupação das linhagens complexas, e sempre que se apresenta ocasião, extende-se em considerações ácerca desta ou daquela família vicentina ou piratiningana. Lisonjeava-se de sua ascendencia, onde se cruzavam os Buenos, os Taques e os Azeredo Coutinho.
Possuia tambem Frei Gaspar uma certa dóse desse nativismo, que, se denunciava, nessa geração de historiadores, pela preocupação que tinham todos, em exaltar as grandezas dos feitos e o heroismo dos filhos do Brasil. Neste particular, segue, com mais serenidade, o caminho já trilhado por Jaboatão, Rocha Pita e Pedro Taques.
A Noticia dos anos em que se descobriu o Brasil, é a sua segunda obra em importancia, e foi ela, o alvo principal dos ataques que padeceu Frei Gaspar. A reprodução da Revista Trimensal, foi copiada de um manuscrito existente no arquivo do Mosteiro de São Bento, em São Paulo, e oferecido ao Instituto Bistorico, pelo Dr. Manoel Joaquim do Amaral Gurgel.
A sua parte mais interessante, e que veio projectar certa luz sobre factos até então obscuros da nossa historia pátria, é a que se refere ao testamento de João Ramalho, lavrado em São Paulo, pelo tabelião Lourenço Vaz, em 3 de Maio de 1580. Segundo este documento, já tinha João Ramalho, em 1580, noventa anos de moradia no Brasil, de onde se deduz que aqui deveria ter aportado em 1490, isto é, dois anos antes da chegada de Colombo ás Antilhas, cabendo-lhe, portanto, a prioridade no descobrimento da America. Foi “esta consequencia, tirada do testamento pelo historiador vicentino, que aguçou os dentes á crítica de Candido Mendes e Moreira de Azevedo.
Nas demais obras historicas de Frei “Gaspar, publicadas pela Revista do Instituto Historico de São Paulo, sobresáem sempre as suas qualidades de historiador ponderado, sereno e verdadeiro, sem jamais se deixar arrastar pelas paixões, que prejudicam a imparcialidade dos julgamentos e amesquinham os juizos da Historia.
Fonte: PARANHOS, Haroldo. História do romantismo no Brasil. São Paulo: Edições Cultura Brasileira, 1937
Frei Gaspar da Madre de Deus's Timeline
1715 |
February 9, 1715
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S. Vicente
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1800 |
January 28, 1800
Age 84
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Santos
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